Desempenho setorial divergente e incerteza económica: como a melhoria contínua impulsiona a resiliência das empresas

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Desempenho setorial divergente e incerteza económica: como a melhoria contínua impulsiona a resiliência das empresas

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Num contexto de desempenho setorial divergente e de incerteza económica, as empresas enfrentam desafios semelhantes, independentemente da sua localização. O exemplo da economia alemã em 2025 ilustra como diferentes dinâmicas setoriais podem impactar as organizações e como a melhoria contínua pode ser a chave para garantir a resiliência e assegurar o crescimento. Em 2025, a economia alemã apresenta duas realidades distintas. Por um lado, os setores industriais, nomeadamente as indústrias transformadoras, como o setor farmacêutico e o automóvel, estão a recuperar com vigor, impulsionando o crescimento das exportações e da produção. Por outro lado, os setores orientados para o consumo interno, como o setor dos serviços e do retalho, continuam a lutar para ultrapassar a estagnação, penalizados pelo comportamento de consumo cauteloso e por uma baixa procura.

Esta divergência obriga os líderes empresariais a gerir realidades contrastantes: alguns procuram conter custos num contexto de vendas enfraquecidas, enquanto outros procuram escalar as suas operações para dar resposta a um aumento súbito e inesperado de encomendas.

Em ambos os cenários, emerge uma prioridade estratégica comum — a excelência operacional. Ao adotar práticas de melhoria contínua e de eficiência, as empresas de todos os setores conseguem quer enfrentar a incerteza de forma mais eficaz como aproveitar o crescimento. Este artigo analisa a economia dividida da Alemanha em 2025 e examina como a melhoria contínua se revela o verdadeiro motor de sucesso e resiliência empresarial, tanto em contextos de adversidade como de expansão.

A economia dividida da Alemanha em 2025

O desempenho económico da Alemanha em 2025 revela uma clara divisão setorial, ilustrando as assimetrias que marcam a atual fase de ajustamento da sua economia. A produção industrial no setor transformador registou um crescimento de 3,0% em março, o melhor desempenho desde 2021, impulsionada por fatores conjunturais e estruturais que favoreceram, em particular, os setores automóvel (+8.1%) e farmacêutico (+19.6%).

No setor automóvel, a combinação da forte procura global por veículos elétricos, a antecipação de exportações para os EUA face à ameaça de novas tarifas bem como investimentos estratégicos em tecnologia têm sustentado o dinamismo da produção e das exportações. Já o setor farmacêutico continua a beneficiar de uma procura crescente por medicamentos inovadores e terapias personalizadas, bem como da forte orientação exportadora da indústria alemã.

Em contraste, os setores de retalho e serviços enfrentam um ambiente adverso. Apesar de sinais pontuais de recuperação no consumo privado, a procura interna permanece condicionada pelos efeitos prolongados da inflação sobre o poder de compra das famílias, por níveis de confiança dos consumidores ainda frágeis e por incertezas políticas internas, que têm limitado o consumo público e os investimentos governamentais. Esta combinação de fatores tem levado a uma contenção na despesa dos consumidores, penalizando particularmente os setores mais dependentes do consumo privado.

Esta divergência setorial reflete uma dinâmica que não é exclusiva da Alemanha, mas que tem vindo a manifestar-se em várias economias desenvolvidas: uma indústria exportadora fortemente competitiva e apoiada na inovação, que contrasta com setores domésticos ainda vulneráveis a choques económicos recentes e a transições estruturais em curso. A economia alemã em 2025 configura, assim, um caso de como choques externos, alterações geopolíticas e transformações tecnológicas, combinadas com decisões de política económica, produzem impactos setoriais diferenciados, exigindo das empresas e dos decisores políticas cada vez mais ágeis, diferenciadas e adaptativas.

Integre a melhoria contínua nas suas operações e supere a volatilidade do mercado

Melhoria contínua como modelo de gestão para crescimento e resiliência

Em mercados cada vez mais voláteis e imprevisíveis, a capacidade de uma organização se adaptar de forma rápida e sustentável é um fator crítico de sucesso. É neste contexto que a adoção de uma verdadeira cultura de melhoria contínua se revela particularmente poderosa, tanto em períodos de expansão económica como em fases de retração ou instabilidade.

A essência desta abordagem reside na criação de um sistema organizacional eficiente e flexível:

  • Em momentos de crescimento, a melhoria contínua permite agilidade, escalando as operações Lean de forma controlada, mantendo a qualidade, a produtividade e a rentabilidade.
  • Em momentos de incerteza ou recessão, o mesmo sistema permite ajustar os recursos, proteger as margens e garantir decisões rápidas e fundamentadas em dados, contribuindo para reforçar a resiliência.

Além disso, uma cultura Kaizen robusta não se limita à excelência operacional, estendendo-se ao crescimento, à inovação, à gestão de risco e ao alinhamento estratégico em toda a organização.

Trata-se de assegurar a excelência operacional e de gestão, independentemente do ciclo económico, de construir equipas altamente envolvidas e alinhadas com a melhoria contínua e de promover o crescimento sustentável e a rentabilidade a longo prazo, com um foco permanente na otimização do desempenho global da organização.

Num ambiente económico global cada vez mais marcado por ciclos curtos, transições abruptas e incertezas persistentes, a melhoria contínua não é apenas uma ferramenta de eficiência — é um modelo de gestão integral que permite às organizações prosperar em qualquer fase do ciclo económico.

Como implementar uma cultura Kaizen

Uma cultura de melhoria contínua (Kaizen) é muito mais do que a aplicação de algumas ferramentas de melhoria ou de simples otimizações locais. É um verdadeiro sistema de gestão integrado, que atua de forma transversal em toda a organização, abrangendo tanto melhorias incrementais como transformações estratégicas profundas.

O princípio central desta cultura é que toda a organização, todos os dias, em todos os níveis, está comprometida com a melhoria de processos, práticas e resultados.

A implementação da cultura Kaizen assenta em quatro pilares fundamentais, conhecidos como KAIZEN™ Way, que permitem estruturar a melhoria organizacional de forma sistemática e sustentável:

  1. Daily KAIZEN™: atua ao nível operacional, capacitando as equipas para identificarem e resolverem problemas diariamente, reduzindo a variabilidade e estabilizando os processos. Este pilar assegura que os pequenos desvios e ineficiências não se acumulam nem comprometem o desempenho global;
  2. KAIZEN™ Cycles: concentra-se em intervenções de maior escala e impacto, através de Eventos Kaizen focados, que resolvem problemas crónicos nos fluxos de valor. Recorrendo a metodologias Kaizen como Value Stream Analysis (VSA) e colaboração interfuncional, estas melhorias estruturais desbloqueiam ganhos significativos e sustentáveis;
  3. Leader’s KAIZEN™: foca-se no papel ativo da gestão de topo na definição de prioridades estratégicas, alinhadas com a visão de longo prazo. Envolve metodologias como o Hoshin Kanri, assegurando que as grandes mudanças transformadoras são lideradas, planeadas e disseminadas com clareza em toda a organização;
  4. KAIZEN™ Office: Funciona como a espinha dorsal do sistema, partilhando o conhecimento, as boas práticas e os benchmarks. Este pilar garante consistência metodológica, apoio técnico e governance das iniciativas de melhoria contínua, assegurando a perenidade do modelo.

O verdadeiro teste da eficácia de um sistema de melhoria contínua está na sua capacidade de sustentar resultados — tanto em momentos de crescimento como em contextos de recessão ou incerteza.

Organizações que adotam esta cultura desenvolvem uma eficiência operacional superior, maior capacidade de adaptação estratégica, uma força de trabalho altamente envolvida e capacitada, e a criação consistente de valor para os seus stakeholders.

É precisamente esta combinação de disciplina e flexibilidade que hoje permite a muitas empresas navegar com sucesso na economia de 2025, marcada por volatilidade, ciclos assimétricos e transições estruturais aceleradas.

Como a melhoria contínua e a excelência operacional permite às organizações prosperar ao longo dos ciclos económicos

Múltiplas organizações de diferentes setores demonstraram como a aplicação de uma cultura de melhoria contínua permite navegar com sucesso tanto em fases de crescimento acelerado como em períodos de crise e incerteza económica. Independentemente do setor ou do contexto geográfico, estas empresas construíram sistemas de gestão baseados na melhoria contínua com uma forte mobilização das suas pessoas para resolver problemas e criar valor de forma sustentada.

Entre os casos mais emblemáticos, destaca-se a Toyota, verdadeiro ponto de referência mundial na aplicação da melhoria contínua. Após enfrentar sérias dificuldades financeiras no pós-guerra da Segunda Guerra Mundial, a empresa desenvolveu o Toyota Production System (que inclui a estratégia de cadeia de abastecimento Just-in-Time), um modelo que lhe permitiu crescer de forma sustentada e adaptar-se com agilidade a crises petrolíferas, recessões globais e flutuações da procura, incluindo medidas para minimizar o risco na cadeia de abastecimento.

Inspirada em muitos dos mesmos princípios, a Danaher construiu o seu próprio modelo de gestão: o Danaher Business System. Este sistema tornou-se o alicerce da sua estratégia operacional e de crescimento, permitindo integrar dezenas de aquisições ao longo das últimas décadas, sempre com elevados padrões de rentabilidade, inovação e excelência operacional em múltiplos setores de tecnologia e ciências da vida.

A experiência da Porsche oferece também um exemplo notável de transformação empresarial através da melhoria contínua. Nos anos 90, perante dificuldades financeiras significativas, a empresa adotou práticas Lean e Kaizen que lhe permitiram transformar por completo o seu modelo de produção, reduzir tempos de fabrico, eliminar desperdícios e melhorar de forma consistente a qualidade. Esta profunda transformação operacional foi determinante para o reposicionamento da marca no segmento de luxo, assegurando a sua sustentabilidade financeira e liderança de mercado.

Outro exemplo é o caso da General Electric (GE). Em 2018, perante graves dificuldades financeiras, perda de quota de mercado e forte pressão pública, a nomeação de Larry Culp como CEO desencadeou uma transformação profunda baseada nos princípios Kaizen. A aposta na comunicação aberta, na liderança pelo exemplo e na participação ativa de todos os colaboradores transformou a cultura organizacional da GE, com claros ganhos de desempenho operacional e renovação da confiança interna.

Por fim, no retalho, destaca-se o caso do Walmart, amplamente reconhecido pela aplicação de princípios Lean e Kaizen em larga escala. Desde cedo, a empresa investiu na melhoria contínua, otimizando as suas cadeias de valor end-to-end. Esse foco na excelência operacional tem sido fundamental para manter preços baixos e margens competitivas, mesmo em contextos de forte pressão económica e concorrência global.

Em síntese, estes exemplos da indústria transformadora e do retalho ilustram como uma cultura de melhoria contínua, quando enraizada de forma transversal e sustentada, não constitui apenas uma ferramenta de eficiência, mas sim um verdadeiro sistema de gestão resiliente, capaz de gerar vantagem competitiva duradoura em qualquer fase do ciclo económico.

Aposte na gestão da mudança para fortalecer a sua cultura de melhoria contínua

Conclusão: resiliência e crescimento através da melhoria contínua

Num contexto marcado por dinâmicas setoriais assimétricas, ciclos económicos curtos e incertezas persistentes, a resiliência das organizações depende, em larga medida, da sua capacidade de adaptação contínua.

A melhoria contínua, aplicada como um verdadeiro modelo de gestão e não apenas como um conjunto de ferramentas operacionais, revela-se uma alavanca fundamental para sustentar o crescimento em ambientes voláteis. Como demonstram organizações de referência em diversos setores, a criação de sistemas organizacionais robustos permite não só resistir a crises, mas também captar novas oportunidades de forma consistente.

Num mundo cada vez mais imprevisível, a cultura de melhoria contínua assume um papel estrutural no sucesso empresarial a longo prazo.

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