Jidoka: a base da automação com um toque humano

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Jidoka: a base da automação com um toque humano

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A qualidade e a eficiência na produção sempre foram prioridades para as diversas indústrias. Há mais de um século, Sakichi Toyoda desenvolveu o conceito de Jidoka, permitindo que as máquinas parassem automaticamente ao detetar anomalias. Hoje, esse princípio continua válido, agora potenciado por tecnologias avançadas. Num cenário onde a produção inteligente e a Indústria 4.0 redefinem as fábricas, o Jidoka permanece um pilar da excelência operacional, unindo tecnologia e melhoria contínua.

O que é Jidoka e porque é importante?

O Jidoka é um dos princípios fundamentais do Lean Manufacturing, garantindo que a qualidade seja integrada no processo de produção desde o início. O conceito baseia-se na capacidade de detetar automaticamente anomalias e interromper a produção sempre que um problema é identificado. Este princípio evita que defeitos se propaguem ao longo da linha de produção, reduzindo desperdícios, melhorando a eficiência operacional e assegurando produtos de qualidade.

Compreender o conceito de Jidoka

O termo Jidoka pode ser traduzido como “automação com um toque humano”, pois permite que máquinas e operadores trabalhem em conjunto para identificar e corrigir erros. Ao parar o processo assim que um problema surge, as empresas podem focar-se na resolução da causa raiz e na prevenção de recorrências, promovendo uma cultura de melhoria contínua.

O Jidoka surgiu no Sistema de Produção da Toyota (TPS) como uma abordagem inovadora para garantir a qualidade nos processos industriais. O conceito remonta a Sakichi Toyoda, que desenvolveu um tear automático capaz de parar sempre que detetava um fio partido, evitando defeitos no tecido produzido. Este princípio foi posteriormente aplicado à produção automóvel e a outras indústrias.

Porque é que o Jidoka é um pilar do Lean Manufacturing

No Lean Manufacturing, o Jidoka é um dos pilares essenciais, em conjunto com o Just-in-Time (JIT). A sua função é garantir que os problemas são identificados e resolvidos no momento exato em que ocorrem. A implementação eficaz do Jidoka promove uma cultura de qualidade, eficiência e melhoria, tornando-se uma base essencial para empresas que seguem o Lean Manufacturing.

Os princípios fundamentais do Jidoka

O Jidoka baseia-se em princípios essenciais que garantem a incorporação da qualidade no processo de produção. A adoção do Jidoka implica que as máquinas e os operadores estejam preparados para detetar anomalias, interromper a produção, identificar a causa raiz do problema e implementar ações corretivas para evitar recorrências.

Princípios do Jidoka

Figura 1 – Princípios do Jidoka

Deteção automática de anomalias

Um dos pilares do Jidoka é a capacidade de identificar automaticamente desvios e anomalias nos processos de produção. Esta capacidade evoluiu significativamente ao longo do tempo, impulsionada pelo avanço da tecnologia, tornando os sistemas de deteção mais rápidos, precisos e autónomos. Com a evolução da Produção Inteligente e da Automação Inteligente, surgiram sensores, câmaras de visão computacional e sistemas de inteligência artificial que monitorizam continuamente a produção, garantindo que qualquer desvio seja identificado em tempo real.

Interrupção da produção quando são detetados erros

Quando uma anomalia é identificada, o processo deve ser imediatamente interrompido para evitar que o erro se propague. No TPS, este princípio é implementado através do Andon, um sistema que permite aos operadores parar a linha de produção sempre que um problema é detetado.

O Andon alerta a equipa sobre a existência de um problema e indicam em que posto de trabalho a anomalia ocorreu. Além disso, os quadros Andon instalados junto da linha de produção exibem sinais luminosos e códigos que informam qual máquina, processo ou operador sinalizou a falha. Com isso, os responsáveis da linha podem intervir rapidamente.

Análise da causa raiz e ação corretiva

Após a deteção e interrupção da produção é necessário corrigir o problema. Em muitos casos, é necessário adotar medidas corretivas provisórias para mitigar o impacto imediato antes de se desenvolverem soluções definitivas que garantam a eliminação do problema de forma sustentável. Para garantir que o problema não se repete, é essencial realizar uma análise estruturada da causa raiz e definir ações corretivas. No contexto do Lean, ferramentas como os 5 Porquês e o Diagrama de Ishikawa (Espinha de Peixe) são frequentemente utilizadas para identificar a origem dos erros.

Melhoria da qualidade do processo e prevenção da recorrência

Uma vez encontrada a causa raiz, devem ser implementadas ações corretivas eficazes para eliminar a fonte do problema. O objetivo final do Jidoka não é apenas corrigir problemas quando ocorrem, mas assegurar que não voltem a acontecer. Para isso, é fundamental adotar mecanismos de prevenção, como:

  • Normalização dos processos para garantir que as melhores práticas são seguidas;
  • Formação e capacitação dos trabalhadores para que todos compreendam a importância da qualidade e do cumprimento das normas;
  • Sistemas Poka Yoke (anti-erro) para prevenir a passagem ou produção de um defeito.

Com estes quatro passos, o Jidoka permite um sistema de produção mais robusto e confiável.

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Os benefícios do Jidoka na produção

A implementação do Jidoka traz uma série de benefícios para as operações industriais, tornando os processos mais eficientes, confiáveis e sustentáveis. A seguir, destacamos os principais benefícios desta abordagem.

Controlo de qualidade melhorado

O Jidoka garante que qualquer defeito é identificado e tratado imediatamente, impedindo que produtos não conformes avancem no processo produtivo. Em vez de depender de inspeções finais, o controlo de qualidade é construído ao longo da produção, reduzindo significativamente o risco de falhas e retrabalho. Isto leva a um aumento da fiabilidade dos produtos, reduzindo reclamações e devoluções dos clientes.

Maior eficiência

 Ao integrar mecanismos de deteção automática de anomalias e paragem da produção sempre que necessário, o Jidoka evita que defeitos se propaguem e causem problemas em etapas posteriores do processo. Por outro lado, os operadores não precisam de estar sempre a inspecionar a qualidade, libertando-os para outras tarefas. Isto resulta numa produção mais estável e previsível, com menos tempo gasto na correção de erros e mais foco na otimização dos processos.

Redução de desperdícios e custos

O Jidoka desempenha um papel fundamental na redução de desperdícios e de custos operacionais, garantindo que os erros são corrigidos antes que gerem impacto financeiro significativo. Ao interromper a produção imediatamente quando uma anomalia é detetada, evita-se a necessidade de retrabalho, o desperdício de materiais e a acumulação de produtos defeituosos. Além disso, a deteção precoce de problemas reduz os custos associados a devoluções e insatisfação dos clientes, tornando a operação mais eficiente, sustentável e economicamente viável.

Capacitação da força de trabalho

Um dos principais benefícios do Jidoka é a autonomia e responsabilidade que confere aos trabalhadores. Nas organizações onde os operadores têm autoridade para parar a linha de produção quando identificam um problema, as equipas sentem-se mais responsáveis pela tomada de decisão e pela melhoria contínua. Isto promove o desenvolvimento de uma cultura de responsabilidade e colaboração, resultando numa maior motivação e satisfação no trabalho, uma vez que os colaboradores reconhecem o seu papel ativo na garantia da qualidade.

Com o Jidoka, as empresas criam um ambiente onde os trabalhadores são incentivados a pensar criticamente, identificar e resolver problemas e melhorar processos continuamente, tornando a organização mais resiliente, eficiente e inovadora.

Como implementar o Jidoka nas suas operações

Antes de avançar para a implementação do Jidoka, é essencial garantir a estabilidade dos processos. Para isso, devem ser adotadas ferramentas Lean fundamentais, como o 5S, a gestão visual e a normalização do trabalho, que criam uma base sólida para a eficiência e a qualidade.

Após assegurar esta estabilidade, a implementação do Jidoka deve seguir um conjunto de etapas estruturadas:

  1. Identificar pontos críticos de qualidade: analisar o fluxo produção, o histórico de defeitos e identificar as principais etapas suscetíveis a erros ou falhas. É importante utilizar ferramentas como FMEA (Análise dos Modos de Falha e os seus Efeitos) para antecipar possíveis riscos;
  1. Implementar mecanismos de deteção de anomalias: utilizar sensores e dispositivos de monitorização para identificar instabilidades no processo em tempo real e recorrer a Poka-Yoke para evitar e detetar defeitos;
  2. Integrar sistemas de paragem automática: implementar mecanismos que interrompam imediatamente o processo sempre que um erro for detetado. Utilizar sistemas Andon (sinalização visual e sonora) para alertar a equipa sobre problemas e permitir uma intervenção rápida. Definir e normalizar os procedimentos de resposta para garantir uma atuação eficaz sempre que ocorrer uma paragem;
  3. Capacitar os trabalhadores para agir sobre os problemas: formar os colaboradores no conceito de Jidoka, assegurando que sabem como reagir corretamente perante uma anomalia. Treinar em metodologias como os 5 Porquês e o Diagrama de Ishikawa (Espinha de Peixe) para identificar a causa raiz dos problemas e em como definir ações corretivas para evitar recorrências;
  4. Monitorizar e otimizar continuamente: utilizar KPIs de qualidade e eficiência para medir o impacto do Jidoka e incentivar uma cultura de melhoria contínua.

A Manutenção Preventiva desempenha também um papel crucial no suporte ao Jidoka, reduzindo significativamente a probabilidade de anomalias causadas por desgaste de equipamentos, falhas mecânicas e desajustes operacionais. Ao garantir que os equipamentos operam de forma estável e previsível, minimiza-se o risco de interrupções inesperadas e potencia-se a eficácia do Jidoka.

Ao seguir estas etapas, as empresas criam um sistema produção mais eficiente, autónomo e resiliente, garantindo que a qualidade está incorporada em cada fase do processo.

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Exemplos de Jidoka em ação

A implementação do Jidoka em ambientes industriais tem sido um fator determinante para melhorar a qualidade e a eficiência dos processos de produção. Um dos exemplos mais emblemáticos desta abordagem ocorre no Sistema de Produção da Toyota.

O Andon nas fábricas da Toyota

O Andon é um dos sistemas mais icónicos do Jidoka e é amplamente utilizado nas fábricas da Toyota para garantir a qualidade e a eficiência da produção. Este mecanismo consiste numa corda ou botão acessível aos operadores, permitindo-lhes parar a linha de produção sempre que detetam uma anomalia ou um potencial defeito.

Como funciona o Andon?

  • Deteção do problema: se um operador percebe uma falha no processo ou um defeito num componente, pode ativar o Andon puxando a corda ou pressionando um botão;
  • Sinalização imediata: o sistema emite um sinal visual e/ou sonoro, alertando os supervisores e equipas de suporte;
  • Intervenção e resolução: a equipa de produção investiga a anomalia, analisa a causa raiz e toma medidas corretivas antes de retomar a produção;
  • Melhoria contínua: após a resolução do problema, o processo é ajustado para evitar que a falha se repita no futuro.

O sucesso do Andon na Toyota inspirou muitas outras empresas a adotarem mecanismos semelhantes, demonstrando que a automação de processos com um toque humano pode transformar a forma como os problemas de qualidade são geridos na indústria.

No entanto, é importante salientar que a implementação do Andon deve ocorrer apenas quando as linhas de produção, o conhecimento dos colaboradores e a cultura de melhoria já atingiram um nível relativamente elevado. Por isso, antes da sua adoção, é essencial garantir que os processos estão estabilizados, que as falhas são exceções e não recorrências constantes, e que os colaboradores estão preparados para desempenhar o seu papel de forma eficaz.

Ainda tem dúvidas sobre Jidoka?

Qual é a diferença entre Jidoka e automação?

Jidoka é automação com um toque humano, permitindo que máquinas ou operadores identifiquem problemas e interrompam a produção para evitar defeitos. Já a automação tradicional foca-se apenas na execução de tarefas sem necessariamente integrar mecanismos de deteção e correção de erros.

O Jidoka é um pilar do Sistema de Produção da Toyota?

Sim, o Jidoka é um dos dois pilares do Sistema de Produção da Toyota (TPS), em conjunto com o Just-in-Time. Este garante que a qualidade seja incorporada no processo produtivo, permitindo a deteção e a correção imediata de problemas.

Qual é a diferença entre Jidoka e Poka Yoke?

Jidoka é o conceito de dotar as máquinas com a capacidade de identificar condições anormais e interromper automaticamente a operação para evitar a produção de defeitos. Já o Poka-Yoke consiste na implementação de dispositivos ou sistemas anti-erro que alertam sobre erros ou impedem que estes ocorram.

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