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Impulsionar a sustentabilidade corporativa através das lições aprendidas com a excelência operacional

Nas últimas décadas, o conceito Lean tem sido apresentado como uma abordagem revolucionária para alcançar a excelência operacional. Ainda assim, apesar do seu histórico de sucesso já comprovado, muitas empresas têm dificuldade em adotar e implementar o Lean. Quais são os principais obstáculos? 1) A falta de compromisso da gestão de topo, 2) A ideia errada de que o Lean é apenas responsabilidade da equipa de melhoria contínua ao invés de um dever coletivo de cada líder dentro da empresa, e 3) A falha em integrar o Lean com a estratégia de negócio, resultando em iniciativas isoladas com impacto reduzido.

Com a atual relevância da sustentabilidade corporativa, é essencial refletir sobre estas lições. Isto levanta questões sobre o atual impulso para a sustentabilidade: será o compromisso da liderança com a sustentabilidade tão forte e genuíno quanto o necessário para uma verdadeira transformação? As organizações reconhecem a importância de integrar os objetivos ESG em todas as equipas, ao invés de os isolar em equipas especializadas em sustentabilidade? E será que as empresas estão a desenvolver estratégias que incorporam inerentemente a sustentabilidade nos seus modelos de negócio, indo além de uma estratégia de sustentabilidade isolada para uma estratégia de negócio sustentável totalmente integrada?

Como podemos ver, ao longo dos anos, muitos dos desafios colocados à implementação bem-sucedida da excelência operacional são agora os mesmos que têm surgido na implementação de uma estratégia de sustentabilidade eficaz.

Compromisso da gestão de topo: a base para o sucesso ESG

Masaaki Imai, conhecido como o pai da Melhoria Contínua (CI), quando questionado sobre os pré-requisitos essenciais para implementar com sucesso uma cultura Kaizen, enfatizou três elementos críticos: 1) compromisso da gestão de topo, 2) compromisso da gestão de topo e 3) compromisso da gestão de topo.  Este facto realça a necessidade fundamental da dedicação da liderança no sentido de promover uma cultura de melhoria contínua e de excelência operacional. A importância deste princípio não se limita ao Kaizen e ao Lean, mas estende-se às iniciativas ambientais, sociais e de governança (ESG).

A analogia entre a implementação dos princípios Lean e as iniciativas de sustentabilidade evidencia uma base comum: o papel indispensável da gestão de topo na dinamização da mudança organizacional. O compromisso da liderança com o ESG deve refletir-se nas suas ações e decisões. Este compromisso significa estabelecer objetivos ESG e liderar ativamente pelo exemplo, moldando uma cultura organizacional que valoriza a sustentabilidade e inspirando cada membro da organização a contribuir para alcançar estes objetivos.  Por conseguinte, o papel da gestão de topo é determinante na transição das estratégias empresariais tradicionais para estratégias intrinsecamente sustentáveis, assegurando que a abordagem da organização em matéria de ESG é abrangente e está integrada nas suas operações.

Sustentabilidade: uma responsabilidade de toda a organização

Outro obstáculo comum no caminho para a excelência operacional tem sido a má interpretação de quem é responsável pela implementação das iniciativas de melhoria.  Em muitas empresas, o fracasso das implementações Lean e Kaizen pode, frequentemente, ser atribuído ao pressuposto de que as equipas de melhoria contínua (CI) são responsáveis por estas iniciativas. Esta abordagem negligencia um princípio fundamental: a melhoria contínua é da responsabilidade de toda a organização.

O Lean e o Kaizen consistem em cultivar uma mentalidade de melhoria contínua que permeia todos os níveis de uma organização. Quando as empresas delegam a responsabilidade de melhoria a uma equipa específica, limitam inadvertidamente o potencial de uma mudança organizacional generalizada e comprometem o seu sucesso. As equipas de melhoria contínua são vitais, mas o seu papel é apoiar e treinar os líderes da organização – os líderes de todas as equipas – que devem conduzir e implementar as iniciativas de melhoria.

Este mesmo princípio aplica-se ao desenvolvimento das iniciativas ESG. Muitas empresas estão a formar equipas de sustentabilidade com a expetativa de que estas equipas liderem a implementação da estratégia ESG.  No entanto, a sustentabilidade, tal como a melhoria contínua, é uma responsabilidade que deve ser integrada no sistema de toda a organização. Os líderes a todos os níveis devem ser os promotores da sustentabilidade, integrando os princípios ESG nos seus processos de decisão e estratégias operacionais. A equipa de sustentabilidade deve fornecer orientação, apoio e treino a estes líderes, ajudando-os a integrar a sustentabilidade na cultura e nas operações da organização.

Estratégia empresarial sustentável vs. estratégia de sustentabilidade

Na procura pela excelência operacional, muitas organizações lançaram-se no Lean, iniciando a sua jornada com workshops isolados para melhorar áreas específicas das suas operações. Embora estes esforços possam produzir melhorias imediatas, muitas empresas têm dificuldade em cultivar uma cultura de excelência operacional. Este desafio resulta de um lapso fundamental: a tentativa de promover a melhoria contínua sem a integrar na base da estratégia empresarial. As implementações bem-sucedidas do Lean e a preservação dos seus princípios ao longo dos anos foram testemunhadas por organizações que integraram a melhoria contínua na sua estratégia de negócio. Estas empresas utilizam as metodologias Kaizen e Lean como ferramentas para a melhoria operacional e como estruturas estratégicas que definem, implementam e monitorizam as suas estratégias de negócios. Essencialmente, o Lean serve os objetivos estratégicos da organização, alinhando os esforços de melhoria com os objetivos gerais da empresa.

É necessária uma mudança de paradigma semelhante quando se aborda a sustentabilidade. Mais do que considerar a sustentabilidade como uma estratégia isolada, as empresas devem visar uma estratégia de negócio sustentável em que os objetivos e iniciativas definidos incorporem intrinsecamente os princípios ESG. Esta abordagem transcende a visão tradicional da sustentabilidade como um esforço periférico ou suplementar, posicionando-a como um princípio central para o planeamento e execução da estratégia organizacional.

Integrar a sustentabilidade na estratégia empresarial significa que todas as decisões, desde o desenvolvimento de produtos à gestão da cadeia de abastecimento, são tomadas tendo em conta os seus impactos em termos de ESG. Esta abordagem holística garante que a sustentabilidade não é apenas mais um item a assinalar numa lista ou um conjunto de iniciativas isoladas, mas que está integrada nas operações e na proposta de valor da organização.

Criar um futuro sustentável: lições do passado para acelerar a transformação ESG

O apelo urgente à integração dos princípios ESG no âmbito das operações empresariais é um passo decisivo para os líderes empresariais de todo o mundo. A necessidade de implementar rapidamente iniciativas ESG é impulsionada por uma confluência de fatores:  desafios ambientais crescentes, mudanças nas expetativas dos consumidores, quadros regulamentares em constante evolução e o reconhecimento crescente da ligação intrínseca entre práticas sustentáveis e desempenho financeiro. Os riscos são elevados e o momento para efetuar uma mudança significativa aproxima-se.

Ainda assim, o caminho a seguir é facilitado pelos êxitos e reveses de anteriores transformações operacionais de grande escala. O conhecimento proveniente destas transformações realça a importância crucial do compromisso da gestão de topo, da apropriação pelos líderes das equipas e da integração estratégica. O momento para agir é agora, com as lições do passado a indicar o caminho para um futuro sustentável e próspero. 

Num próximo artigo, iremos refletir sobre a forma como uma cultura de melhoria contínua e as ferramentas Lean podem contribuir para uma organização sustentável.