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8 Mitos sobre Sustentabilidade Empresarial
Embora todos os dias, questões ligadas à preservação e responsabilidade ambiental, social e económica se difundam no meio social e, principalmente, empresarial, muitos gestores têm uma visão equivocada sobre o impacto das práticas sustentáveis no seu negócio. Neste sentido apresentamos abaixo oito considerações importantes para esclarecer alguns mitos relativos à sustentabilidade.
A sustentabilidade é um gasto e não um investimento
As iniciativas no âmbito da sustentabilidade devem ter um business case que considere não só os custos a incorrer para as colocar em prática mas também a quantificação dos benefícios. Para facilitar esta análise, as empresas devem considerar a métrica S-ROI (Sustainable Return on Investment). O objetivo do S-ROI é tornar as avaliações de risco-oportunidade mais robustas, proporcionando uma nova visibilidade aos custos e benefícios internos intangíveis e às externalidades – efeitos sociais, económicos e ambientais que normalmente não são considerados no planeamento tradicional de projetos orientados para os fluxos de caixa.
Os benefícios podem incluir emissões evitadas, recursos poupados ou melhorias na segurança e produtividade, enquanto os custos podem incluir efeitos adversos na saúde pública, riscos associados ao aumento dos custos dos recursos ou escassez, ou impactos de um projeto em explorações agrícolas próximas, pescas ou locais turísticos. Quantificar estes fatores documenta os valores intangíveis de um investimento e permite a sua incorporação no processo de tomada de decisão, juntamente com as métricas tradicionais de ROI financeiro, fornecendo insights adicionais, confiança e transparência para os investidores.
Por outro lado, a conduta ética, a não discriminação, o combate à corrupção são ações no âmbito da sustentabilidade que não envolvem, necessariamente, a utilização de recursos financeiros.
A sustentabilidade é uma moda/ tendência passageira
Diariamente o mercado evolui no sentido de dar mais e melhor atenção a empresas, produtos e serviços sustentáveis, desde novas leis e referenciais, até exigências mais acentuadas dos consumidores e dos trabalhadores, bem como as expectativas dos investidores. Existem vários estudos que comprovam que a sustentabilidade não é uma moda, é, antes, uma nova forma de fazer negócios:
- Sem mudanças drásticas nas emissões de CO2, o mundo caminha para um aumento de temperatura de pelo menos 2,7°C até o final do século, muito acima dos 1,5°C definidos na COP26 (ONU)
- 75% dos executivos em empresas de investimento consideram o desempenho de sustentabilidade de uma empresa nas suas decisões de investimento e 50% não investiria numa empresa com má reputação de sustentabilidade (BCG, 2022)
- 66% dos consumidores formam impressões baseadas na ética, no impacto ambiental e na responsabilidade social de uma empresa (Nielsen, 2015)
- 50% dos colaboradores favorecem empresas que se concentram na igualdade social e na proteção ambiental, mesmo considerando um corte salarial até 15% (PwC, 2020)
Enquanto a busca pela justiça económica estiver no centro do sistema capitalista contemporâneo, a sustentabilidade continuará a ser relevante. A forma pode mudar, mas a substância persistirá. No futuro, o tema irá estar tão enraizado na cultura das empresas que não será necessário dar-lhe tanto destaque em termos de comunicação e ação política.
A solução é ter um departamento de sustentabilidade
Com o pensamento de que a sustentabilidade é uma tendência, diversas empresas criaram áreas e cargos específicos para tratar do assunto, sem perceber que esta medida é insuficiente.
Numa fase inicial, a criação do papel de Chief Sustainability Officer (CSO) proporciona uma fonte de foco sustentado para impulsionar a agenda de sustentabilidade. No entanto, se a equipa de sustentabilidade se mantiver isolada do negócio, os líderes das unidades de negócio tendem a delegar e desresponsabilizar-se pelos objetivos de sustentabilidade.
É crucial definir claramente os papéis e responsabilidades das unidades de negócio e da equipa central de sustentabilidade e entender que o papel desta equipa deve evoluir ao longo do tempo.
Ser sustentável é implementar ações ambientais
Atualmente, uma das palavras mais utilizadas para falar do meio ambiente e dos impactos negativos causados pelo homem é a sustentabilidade, termo que possui os mais variados significados.
No contexto empresarial, a sustentabilidade de uma organização é definida pelo conjunto de três eixos: valor natural, valor humano e valor económico. Esta definição tem por base o framework ESG (Environmental, Social e Governance) que surge pela primeria vez em 2006 no relatório Principles for Responsible Investment (PRI) das Nações Unidas. O ESG considera o impacto e dependências de uma empresa no ambiente e na sociedade, bem como a qualidade do seu governance corporativo.
A sustentabilidade só se aplica a empresas produtoras de bens
90% do impacto ambiental das organizações é causado por emissões indiretas de gases de efeitos de estufa (âmbito 3). No entanto, não significa que as empresas que não produzem bens, geralmente com cadeias de abastecimento mais simples, não tenham uma pegada de carbono significativa.
Por outro lado, a mão de obra em empresas de serviços tem vindo a aumentar enquanto a indústria e a agricultura apresentam tendência contrária . Assim, especialmente, no setor dos serviços, a vertente social da sustentabilidade deve assumir um papel de destaque.
De facto, qualquer negócio que faça parte de uma cadeia de abastecimento, que tenha colaboradores e clientes, deve desenvolver uma estratégia de sustentabilidade ambiental, social e económica.
Só com a novas tecnologias será possível ser sustentável
Outro mito muito comum é acreditar que as novas tecnologias solucionam todos os problemas. É óbvio que a tecnologia alavanca a sustentabilidade: motores mais eficientes, lâmpadas que consomem menos energia e mais transparência de informação são alguns exemplos que trarão impactos positivos para o tema.
Mas, não se deve depositar toda a atenção na inovação e tecnologia. As empresas não devem, repentinamente, fazer grandes investimentos e implementar todas as mudanças disruptivas para se tornarem empresas sustentáveis, uma vez que tais mudanças, em grande número e intensidade, poderiam afetar o negócio.
O roteiro de sustentabilidade deve ser estruturado em projetos de curta duração, âmbito e objetivos bem definidos que sejam implementados gradualmente, suavizando os impactos internos na organização e permitindo adequações e correções necessárias.
É suficiente produzir o relatório de sustentabilidade
Apenas publicar o documento não basta. O relatório de sustentabilidade é um relato, uma prestação de contas, é a linha final de um processo que deve ser estruturado e contínuo.
Para que uma empresa tenha uma estratégia de sustentabilidade eficaz deve desenvolver um roadmap, desdobrar em ações a realizar pelos vários agentes da organização, acompanhar o progresso das ações e definir contramedidas para os desvios nos resultados
Comunicar práticas sustentáveis é green washing
Esta é uma questão histórica, já que no passado as empresas comunicavam qualquer pequena ação como se fosse um feito e o excesso de alarido começou a ser criticado. Além disso, alguns casos de green washing têm sido alvo de escrútinio público e gerado bastante controvérsia.
As empresas que estabelecem metas significativas e as alcançam, têm todo o direito de partilhar os seus sucessos. Os projetos realmente sustentáveis merecem ser comunicados e servem como forma de incentivo para outras organizações assim como aumentam a consciencialização global para a sustentabilidade.
Neste processo, a transparência é um elemento de extrema importância, não só para as conquistas, mas também para as falhas. Não há nada melhor para a construção da credibilidade que admitir os erros e reconhecer as lições aprendidas.
Estes são apenas alguns dos mitos que temos observado no trabalho com grandes e pequenas empresas. Tal como acontece com estes oito exemplos, há uma abundância de evidências para dissipar os mitos, mas a conclusão é simples: as empresas que optam por fechar os olhos aos benefícios de se tornar mais sustentáveis estão a colocar-se numa posição de desvantagem competitiva imediata e possivelmente em risco de sobrevivência no futuro.
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