Como Calcular a Pegada de Carbono da sua Empresa: Métodos e Benefícios

Artigo

Como Calcular a Pegada de Carbono da sua Empresa: Métodos e Benefícios

twitter
linkedin
facebook

A preocupação com a sustentabilidade corporativa e a mitigação das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) tornou-se uma prioridade para as organizações de todo o mundo. O cálculo da pegada de carbono é uma prática essencial para entender e gerir o impacto ambiental das operações empresariais. Este artigo oferece uma visão sobre como calcular a pegada de carbono das organizações, destacando os métodos e os benefícios associados a esta prática.

Definição de Pegada de Carbono

A pegada de carbono refere-se à quantidade total de gases com efeito de estufa (GEE) emitidos direta e indiretamente por uma empresa, indivíduo, evento ou produto ao longo do seu ciclo de vida. Os GEE incluem gases como dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxidos de nitrogénio (NOx) e outros. Todos são medidos em termos de equivalente de CO2 para facilitar a comparação. O cálculo da pegada de carbono tem em conta todas as atividades que resultam na libertação de GEE, desde a geração de energia e o uso de combustíveis fósseis até aos processos industriais, de transporte e de gestão de resíduos.

Importância de Medir a Pegada de Carbono

Medir a pegada de carbono é essencial para compreender e gerir o impacto ambiental de uma organização. Através desta medição, as empresas podem identificar as suas principais fontes de emissões de GEE e implementar estratégias para reduzi-las. Isto não só contribui para combater os impactos das alterações climáticas, mas também pode resultar em benefícios económicos e no acesso a incentivos fiscais. Além disso, uma empresa que mede e reduz a sua pegada de carbono pode melhorar a sua reputação no mercado, atraindo consumidores conscientes e investidores interessados em práticas sustentáveis.

Outro aspeto crucial é o cumprimento de leis e regulamentos ambientais. Organizações intergovernamentais como a União Europeia, governos centrais, regionais e locais estão a implementar metas de redução de GEE e políticas para controlo dessas emissões – as empresas que não aderem a essas regulamentações podem enfrentar multas, sanções e outras penalidades. Medir e gerir a pegada de carbono ajuda as organizações a manterem-se em conformidade com essas leis, evitando penalidades e fortalecendo a sua posição no mercado.

Faça a diferença: reduza a pegada de carbono da sua empresa

Tipos de Emissões de Gases de Gases de Efeito Estufa

As emissões de gases de efeito estufa (GEE) podem ser categorizadas de várias formas para facilitar a sua medição e gestão. Compreender os diferentes tipos de emissões é importante para calcular a pegada de carbono de uma organização de forma precisa e abrangente.

Emissões Diretas e Indiretas

Para se conhecer a pegada de carbono de uma empresa, é importante distinguir entre emissões diretas e indiretas:

  • Emissões Diretas: são aquelas que ocorrem a partir de fontes que pertencem ou são controladas pela empresa. Exemplos incluem a combustão de combustíveis em caldeiras, fornos, veículos e processos industriais, e também da frota de veículos da empresa. Estas emissões são geralmente mais fáceis de identificar e quantificar, porque a empresa tem controlo direto sobre as fontes.
  • Emissões Indiretas: são emissões que resultam das atividades da empresa, mas ocorrem em fontes que não são sua propriedade ou não estão sob o seu controlo. Exemplos são as emissões associadas ao consumo de eletricidade que a empresa adquire ou associadas às deslocações de trabalho ou de commuting dos funcionários da empresa. A medição destas emissões depende de dados fornecidos por partes externas, como os colaboradores, os fornecedores, entre outros.

Âmbitos de Emissão (Âmbito 1, Âmbito 2 e Âmbito 3)

Além da distinção entre emissões diretas e indiretas, as emissões de GEE podem ser classificadas em três âmbitos, conforme definido pelo GHG Protocol. Esses âmbitos ajudam a categorizar as emissões com base nas suas origens e a responsabilidade da empresa sobre elas:

  • Âmbito 1 (Emissões Diretas): inclui todas as emissões diretas de GEE de fontes que pertencem ou são controladas pela empresa. Isto abrange a combustão de combustíveis em instalações próprias, emissões de processos químicos e emissões fugitivas.
  • Âmbito 2 (Emissões Indiretas de Energia): refere-se às emissões indiretas de GEE provenientes da geração de eletricidade, calor ou vapor comprados pela empresa. Embora a empresa não controle diretamente a geração dessas energias, o seu consumo contribui para as emissões de GEE nas centrais que produzem essas energias.
  • Âmbito 3 (Outras Emissões Indiretas): inclui todas as outras emissões indiretas que ocorrem na cadeia de valor da empresa. Estas podem abranger uma vasta gama de atividades, como a produção e transporte de matérias-primas, viagens de negócios, deslocações de funcionários, uso de produtos vendidos e tratamento de resíduos. O Âmbito 3 é frequentemente o mais complexo e extenso, mas a sua medição é crucial para uma compreensão completa do impacto ambiental da empresa.
Emissões de GEE de Âmbitos 1, 2 e 3 (Fonte: Greenhouse Gas Protocol)

Fig.1 – Emissões de GEE de Âmbitos 1, 2 e 3 (Fonte: Greenhouse Gas Protocol)

Métodos para Calcular a Pegada de Carbono

Calcular a pegada de carbono de uma organização é um processo que envolve a recolha de dados, a aplicação de métodos de cálculo precisos e a elaboração de relatórios conforme as normas estabelecidas.

Recolha de Dados

Antes de se iniciar a recolha de dados, é necessário definir a abrangência, ou fronteiras, da medição e o período de relato. Após esta definição inicial, passa-se para a recolha de dados. Esta fase envolve a identificação e a quantificação das fontes de emissões dentro e fora da empresa. Exemplos de fontes de emissão de carbono:

  • Energia Elétrica: consumo de eletricidade gerada a partir de fontes fósseis. Os dados podem ser obtidos a partir de faturas de energia elétrica e registos de consumo.
  • Combustíveis Fósseis: uso de gasolina, diesel, gás natural e outros combustíveis em veículos, geradores e outros equipamentos. Os dados podem ser recolhidos a partir de faturas de combustível, registos de manutenção e outros registos.
  • Processos Industriais: emissões provenientes de processos de produção e transformação. Requerem dados de produção e medições diretas das emissões.
  • Resíduos e Tratamento de Efluentes: emissões geradas pela gestão de resíduos sólidos e tratamento de águas residuais. Incluem dados sobre a quantidade de resíduos gerados, métodos de tratamento e deposição final.

Existem várias ferramentas e softwares disponíveis para auxiliar na recolha e monitorização de dados de emissões, como calculadoras de pegada de carbono e plataformas de gestão de sustentabilidade.

Cálculo das Emissões

Uma vez recolhidos e introduzidos os dados, são calculadas as emissões de GEE. Isto pode ser feito através de diferentes metodologias, dependendo do tipo e da fonte das emissões.

Os fatores de emissão são coeficientes que relacionam a quantidade de GEE emitidos com uma unidade de atividade (por exemplo, toneladas de CO2 por megawatt-hora de eletricidade consumida). Esses fatores podem ser obtidos de várias fontes, como:

  • Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC): fornece diretrizes e fatores de emissão para diferentes atividades.
  • Agências Governamentais: muitas vezes, fornecem fatores de emissão específicos para setores locais.
  • Empresas de Consultoria Ambiental: em casos muito específicos podem fornecer fatores de emissão personalizados com base em medições específicas.

Existem duas abordagens distintas de cálculo:

  • Método Top-Down: baseia-se em dados agregados, como contas de energia e relatórios financeiros, para estimar as emissões totais. Este método é menos detalhado, mas pode ser útil para uma visão geral rápida.
  • Método Bottom-Up: utiliza dados detalhados de processos específicos e fontes de emissão individuais, proporcionando maior precisão. Este método envolve a medição direta das emissões ou o uso de dados específicos de processos.

Relatórios e Normalização

Depois de calcular as emissões, é essencial reportar os resultados de forma transparente e de acordo com normas estabelecidas. Isto ajuda a garantir a credibilidade dos dados e facilita a comparação com outras empresas.

O GHG Protocol é uma ferramenta reconhecida internacionalmente que fornece uma estrutura normalizada para medir e reportar emissões. Inclui diretrizes detalhadas para contabilizar emissões diretas e indiretas e para relatar as emissões de forma consistente.

Existe também a ISO 14064 é a norma internacional que especifica princípios e requisitos para a quantificação e relato de GEE. A obtenção de certificações como a ISO 14064 pode aumentar a credibilidade dos relatórios de emissões. As certificações são frequentemente exigidas por reguladores e investidores.

Realizar auditorias externas por empresas especializadas pode também assegurar que os cálculos e relatórios de emissões são precisos e confiáveis. As auditorias podem identificar áreas de melhoria e assegurar a conformidade com normas e regulamentos.

O que é o Greenhouse Gas Protocol?

O Greenhouse Gas Protocol (GHG Protocol) é uma iniciativa internacional desenvolvida para fornecer um padrão globalmente aceite para medir e gerir emissões GEE. Lançado em 1998 pelo World Resources Institute (WRI) e pelo World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), o GHG Protocol tem se tornado a base para muitas normas e regulamentos de emissões em todo mundo.

Objetivos do GHG Protocol

O principal objetivo do GHG Protocol é normalizar a forma como as empresas e organizações medem e reportam as suas emissões de GEE. Isto facilita a comparação entre diferentes entidades e ajuda a garantir a transparência e a precisão das medições. Além disso, o protocolo visa incentivar a adoção de práticas mais sustentáveis e a redução das emissões globais de GEE.

Benefícios do uso do GHG Protocol

Adotar as diretrizes do GHG Protocol traz vários benefícios para as empresas:

  • Credibilidade e Confiança: seguir uma norma reconhecida internacionalmente aumenta a credibilidade dos relatórios de emissões.
  • Identificação de Oportunidades de Redução: ao entenderem melhor as suas emissões, as empresas podem identificar áreas onde podem reduzir a sua pegada de carbono de forma eficaz.
  • Conformidade Regulamentar: o protocolo ajuda as empresas a cumprir com leis e regulamentos ambientais, evitando possíveis multas.
  • Vantagens Competitivas: empresas que adotam práticas sustentáveis podem diferenciar-se no mercado, atraindo consumidores e investidores que valorizam a responsabilidade ambiental.

Benefícios de Calcular a Pegada de Carbono

Calcular a pegada de carbono de uma organização, não só é um passo essencial no combate contra as mudanças climáticas, mas também traz diversos benefícios tangíveis e intangíveis. Estes benefícios podem ser categorizados em ambientais, económicos e de reputação.

Benefícios Ambientais

Calcular e entender a pegada de carbono da sua empresa tem um impacto ambiental direto. Ao identificar e quantificar as fontes de emissões, as empresas podem implementar estratégias para reduzir as suas emissões de GEE. O que contribui significativamente para a mitigação dos impactos das alterações climáticas. Por outro lado, reduzir a pegada de carbono pode diminuir a pressão sobre habitats naturais, contribuindo para a preservação da biodiversidade.

Benefícios Económicos

Além dos benefícios ambientais, calcular a pegada de carbono também pode trazer vantagens económicas para a empresa. Identificar áreas de alta emissão pode revelar oportunidades para aumentar a eficiência energética e reduzir os custos operacionais. Medidas como a otimização do uso de energia e a implementação de tecnologias mais eficientes podem resultar em poupanças significativas.

Adicionalmente, muitos governos oferecem incentivos fiscais, subsídios e outros benefícios financeiros para empresas que adotam práticas sustentáveis e reduzem as suas emissões de GEE.

Por fim, entender e gerir as emissões de carbono pode ajudar a empresa a antecipar e mitigar riscos relacionados com regulamentos ambientais futuros, variações de preços de energia e matérias-primas, e impactos climáticos adversos.

Benefícios para a Reputação da Empresa

A reputação de uma empresa é um ativo intangível crucial, e calcular a pegada de carbono pode fortalecer essa reputação de várias formas. As empresas que demonstram um compromisso para com a sustentabilidade e a redução de emissões de carbono são vistas de forma mais positiva por consumidores, parceiros de negócios e a sociedade em geral. Isto pode melhorar a imagem da marca e aumentar a lealdade dos clientes.

Os investidores estão cada vez mais a procurar empresas que adotam práticas ambientais responsáveis. Medir e relatar a pegada de carbono pode atrair investidores interessados em sustentabilidade.

Em resumo, calcular a pegada de carbono oferece uma série de benefícios que vão além da simples conformidade regulatória.

O Futuro do Cálculo da Pegada de Carbono

À medida que a consciencialização sobre as mudanças climáticas cresce e as políticas ambientais se tornam mais rigorosas, o cálculo da pegada de carbono ganha relevância junto das empresas de todos os setores. O futuro dessa prática promete avanços significativos a vários níveis como podemos verificar abaixo.

Avanços Tecnológicos

O desenvolvimento contínuo de tecnologias está a revolucionar a maneira como as empresas medem e gerem as suas emissões de carbono.

A IoT está a permitir a instalação de sensores em tempo real que monitorizam as emissões de GEE em várias partes das operações empresariais. Esses dispositivos fornecem dados precisos e em tempo real, permitindo uma resposta mais rápida e eficaz.

 A Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning podem analisar grandes volumes de dados de emissões, identificar padrões e prever áreas de risco. Isto ajuda as empresas a otimizar as suas operações e a reduzir a pegada de carbono de forma mais eficiente.

Integração nas Estratégias Empresariais

O cálculo da pegada de carbono está a tornar-se uma parte integrante das estratégias empresariais. As organizações estão cada vez mais a incorporar a sustentabilidade nas suas missões e valores corporativos. Medir e reduzir a pegada de carbono é uma componente crucial dessas iniciativas.

A procura por relatórios de sustentabilidade e critérios ESG está a aumentar. Investidores, consumidores e reguladores exigem transparência sobre as práticas ambientais das empresas. O cálculo da pegada de carbono é um elemento-chave destes relatórios.

Compensação de Carbono e Neutralidade Climática

A procura pela neutralidade climática está a impulsionar o mercado de compensação de carbono. As organizações estão a investir em créditos de carbono para compensar as suas emissões remanescentes. Projetos de reflorestamento, energias renováveis e captura de carbono estão entre as opções mais populares.

Muitas empresas estão a comprometer-se a alcançar a neutralidade de carbono num futuro próximo. Este objetivo envolve não só a redução de emissões, mas também a compensação das emissões inevitáveis através de investimentos em projetos sustentáveis.

Em resumo, o futuro do cálculo da pegada de carbono está repleto de oportunidades e desafios. Com avanços tecnológicos e uma integração cada vez maior nas estratégias empresariais, as empresas têm o potencial de contribuir significativamente para a mitigação dos impactos das alterações climáticas e a construção de um futuro mais sustentável.

Ainda tem questões sobre o Cálculo da Pegada de Carbono?

Como posso determinar os fatores de emissão específicos para a minha indústria?

Para determinar os fatores de emissão específicos para uma dada indústria, pode-se consultar os seguintes meios:

  • Guias e relatórios de organizações reconhecidas, como o Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC);
  • Agências governamentais;
  • Relatórios setoriais;
  • Ferramentas e calculadoras de carbono;
  • Empresas de consultoria.

O que é o mercado de compensação de carbono?

O mercado de compensação de carbono permite que as organizações e indivíduos comprem créditos para compensar suas emissões de CO2. Cada crédito representa a redução de uma tonelada de CO2. Existem mercados voluntários e regulatórios, e os créditos são gerados por projetos como reflorestamento e energias renováveis. As empresas podem utilizar créditos de carbono para alcançar a neutralidade de carbono, compensando as suas emissões inevitáveis após terem reduzido as suas emissões tanto quanto possível internamente.

Como posso envolver os meus fornecedores e parceiros na redução das emissões de carbono?

Envolver fornecedores e parceiros na redução das emissões de carbono pode ser um processo colaborativo e mutuamente benéfico. Algumas estratégias:

  • Comunicação: partilhar os objetivos e compromissos de sustentabilidade da empresa com os fornecedores e parceiros. Explicar a importância da redução das emissões de carbono.
  • Parcerias Colaborativas: trabalhar em conjunto com os fornecedores para identificar oportunidades de redução de emissões nas suas operações.
  • Critérios de Seleção: incluir critérios de sustentabilidade nas práticas de seleção e contratação de fornecedores.
  • Capacitação e Treino: oferecer treino e recursos para ajudar os fornecedores a entender e implementar práticas de redução de emissões.
  • Avaliação: estabelecer um sistema de monitorização para acompanhar o progresso dos fornecedores em relação às metas de emissões.

Saiba mais sobre Sustentabilidade

  Saiba como melhorar esta área

Receba as últimas novidades sobre o Kaizen Institute