O Poder da Cadeia Crítica na Gestão de Projetos

Artigo

O Poder da Cadeia Crítica na Gestão de Projetos 

twitter
linkedin
facebook

A gestão de projetos muitas vezes depara-se com desafios relacionados com o cumprimento dos prazos, recursos limitados e incertezas no planeamento. Diante desta complexidade, surge a necessidade de implementar estratégias inovadoras e eficientes que possam otimizar o fluxo de trabalho e garantir a entrega bem-sucedida dos projetos.

Este artigo explora o poder do modelo da Cadeia Crítica (Critical Chain) no contexto da gestão de projetos. A Cadeia Crítica é uma abordagem que vai além das metodologias convencionais, propondo uma visão mais holística e orientada para resultados. Ao focar não apenas na sequência das tarefas individuais, mas também nas restrições que impactam diretamente a conclusão do projeto, a Cadeia Crítica visa maximizar a eficiência, reduzir a variabilidade e assegurar que os recursos estão disponíveis quando necessários.

Quais são os benefícios da Cadeia Crítica?

A implementação da Cadeia Crítica na gestão de projetos permite proporcionar uma série de benefícios que contribuem significativamente para o sucesso global do projeto.

Alguns dos benefícios do Método da Cadeia Crítica:

Previsibilidade na Conclusão do Projeto

A gestão eficiente de buffers e a identificação de atividades críticas promovem uma conclusão mais previsível, reduzindo surpresas de última hora.

Foco nas Atividades de Alto Impacto

A Cadeia Crítica direciona a atenção para as atividades críticas, evitando distrações e garantindo que recursos sejam alocados onde são mais necessários.

Melhoria na Comunicação e Colaboração

A transparência proporcionada pela Cadeia Crítica, incluindo a monitorização dos buffers, promove uma comunicação mais eficaz e colaboração entre os membros da equipa e stakeholders.

Gestão Proativa de Riscos

A análise contínua dos buffers e o acompanhamento rigoroso do projeto permitem a deteção antecipada de possíveis problemas, permitindo ações corretivas antes que impactem o cronograma.

Eficiência Global do Projeto

Ao evitar as multitarefas, ao eliminar restrições e ao otimizar o uso de recursos, a Cadeia Crítica contribui para uma execução mais eficiente do projeto como um todo, reduzindo a sua duração total.

Esta metodologia aplica-se a diversas tipologias de projetos, desde projetos de desenvolvimento de produtos, até projetos de grande investimento de capital, como novas fábricas, centros logísticos, linhas de produção ou outros.

Compreender a Cadeia Crítica e os Fundamentos do Método

A Cadeia Crítica, apresentada por Eliyahu M. Goldratt em 1997 no livro “Critical Chain”, é uma sequência de atividades que determina a duração total do projeto, tomando em consideração dependências de tarefas e recursos. Ao contrário dos métodos tradicionais, como o Método do Caminho Crítico e o PERT, o Método da Cadeia Crítica (MCC) destaca-se pela sua ênfase na disponibilidade e nivelamento de recursos, baseando-se na teoria das restrições.

Fluxograma método da cadeia crítica

Identificação da Cadeia Crítica e Gestão de Buffers

As restrições que podem impedir a conclusão do projeto no prazo inicialmente definido, incluem a incerteza em cada tarefa e estimativas de duração inflacionadas devido a margens de segurança. A Cadeia Crítica é identificada após a criação do cronograma do projeto e da determinação do caminho crítico. O caminho crítico inicial é então reavaliado com base no Método da Cadeia Crítica.

Ao contrário do método do Caminho Crítico, que utiliza folgas, o Método da Cadeia Crítica utiliza buffers. Esses buffers são adicionados ao final da cadeia de tarefas, considerando a disponibilidade de recursos e as suas dependências ao longo da cadeia de tarefas. Há três tipos de buffers que são definidos:

  • Buffer do Projeto: Colocado entre a última tarefa e a data final do projeto. Atua como contingência para prevenir atrasos na Cadeia Crítica.
  • Buffer de Alimentação: Colocado no final de cadeias não críticas para sincronizar as suas durações com a Cadeia Crítica. Atrasos nestas cadeias não afetam a Cadeia Crítica.
  • Buffer de Recursos: Colocado antes de uma tarefa crítica que requer recursos essenciais.
Indicadores de buffer do projeto

A gestão eficiente destes buffers é crucial para controlar o cronograma do projeto. O Método da Cadeia Crítica concentra-se na gestão destes buffers para efetivamente controlar o cronograma do mesmo.

Cadeia Crítica vs. Caminho Crítico

Embora a definição de Cadeia Crítica seja semelhante ao Caminho Crítico na gestão tradicional de projetos, as metodologias divergem significativamente. No Método do Caminho Crítico, o caminho é determinado por cálculos matemáticos, com folgas adicionadas a cada atividade. Já no Método da Cadeia Crítica, as durações das atividades são estimadas com o tempo mínimo necessário, e um buffer de projeto é adicionado no final do projeto como contingência.

Enquanto o Caminho Crítico considera apenas sequências de tarefas, o Método da Cadeia Crítica considera tanto as dependências de tarefas como as de recursos.

Além disso, o MCC utiliza buffers, proporcionando uma programação mais eficiente e agressiva, com foco na gestão desses buffers para ajudar a assegurar o cronograma do projeto. Em contrapartida, o Caminho Crítico procura controlar o desempenho do projeto através do acompanhamento de atividades.

Por que razão as tarefas demoram mais tempo do que o necessário?

As tarefas muitas vezes consomem mais tempo do que o estritamente necessário e isso pode ser atribuído a quatro padrões de comportamento que influenciam a gestão do tempo do projeto.

Razões para tarefas demoradas

Padrão de Comportamento 1: Segurança ao Nível da Tarefa

Muitas vezes, as estimativas de tempo são inflacionadas por uma mentalidade de segurança. Ou seja, as pessoas dizem que a tarefa demorará mais do que realmente acham por segurança. Essa prática visa garantir que a tarefa seja concluída no prazo, mas a margem adicional pode variar dependendo do otimismo ou pessimismo da pessoa envolvida.

“Acho que esta tarefa vai demorar 5 dias, mas vou estimar 8 dias, assim posso ter a certeza de que vou terminar a tempo.”

Padrão de Comportamento 2: Lei de Parkinson

A Lei de Parkinson manifesta-se quando um indivíduo, ao aproximar-se da conclusão de uma tarefa, decide utilizar o tempo restante para melhorar ainda mais o trabalho. Em vez de comunicar a conclusão antecipada, há uma inclinação natural para ficar a aperfeiçoar o resultado até o último momento disponível.

“Estou quase a terminar a minha tarefa, mas como ainda tenho tempo, vou usar os restantes dias para melhorar ainda mais o meu trabalho.”

Padrão de Comportamento 3: Síndrome do Estudante

Esta comportamento surge quando as pessoas procrastinam no início da tarefa, acreditando que têm tempo de sobra. Isto resulta na realização de atividades, por vezes desnecessárias, antes de focar na tarefa principal, desperdiçando a margem de segurança inicialmente planeada.

“Bem… Eu tenho 8 dias, então eu tenho tempo para fazer outras atividades antes. Estas são mais interessantes e também necessárias.”

Padrão de Comportamento 4: Multitarefa

O hábito de realizar várias tarefas simultaneamente contribui significativamente para a expansão do tempo necessário para a conclusão de cada atividade. O malabarismo entre diferentes tarefas não apenas consome tempo, mas também aumenta a complexidade e, consequentemente, a duração total das tarefas.

“Não tenho tempo para tudo! Tenho de estar sempre a “saltar” de tarefa em tarefa para ir adiantando todas…”

Compreender estas padrões de comportamento é crucial para implementar estratégias eficazes de gestão do tempo e garantir que as tarefas são concluídas dentro dos prazos estabelecidos, minimizando os efeitos destes padrões de comportamento.

Guia passo a passo para a implementação

A implementação bem-sucedida da Cadeia Crítica na gestão de projetos requer uma abordagem estruturada e cuidadosa. Abaixo, apresentamos um guia passo a passo que detalha as etapas essenciais para a implementação eficaz da Cadeia Crítica.

1. Identificar: Cadeia Crítica e Segurança das Tarefas

A primeira etapa envolve a identificação da Cadeia Crítica, que é a sequência de atividades que determina a duração total do projeto, considerando tanto as dependências das tarefas como as dos recursos.

Analisar e compreender a presença de segurança nas estimativas de tempo para cada tarefa. Identificar padrões de comportamento, como a tendência de atribuição de tempo adicional por precaução.

2. Corrigir: Remover a Segurança das Tarefas e Colocar a Segurança no Buffer do Projeto

Ajustar as estimativas de tempo, removendo a segurança excessiva atribuída às tarefas. Estimativas realistas são essenciais para a eficácia da Cadeia Crítica. Estimar as durações de tarefas no nível de 80% (80% de probabilidade de cumprimento) – tendência natural humana para estimativa de tempo de tarefa com segurança. Estimar a duração das tarefas no nível de 50% (50% de probabilidade de cumprir) – suposição de que metade das tarefas serão concluídas a tempo e a outra metade estará atrasada. A metade da diferença entre estes dois valores é o buffer. 

Recolocar a margem de segurança removida das tarefas no buffer do projeto. Este buffer atua como reserva estratégica para lidar com eventuais atrasos, mantendo o foco na duração realista das tarefas. Este é o buffer do projeto.

3. Definir: Buffer de Projeto como Indicador Principal e Buffer de Alimentação para Tarefas Não Críticas

Estabelecer o buffer de projeto como o indicador principal do desempenho do projeto. Monitorizar de perto o consumo desse buffer para avaliar a saúde geral do projeto.

Implementar buffers de alimentação no final das cadeias não críticas para sincronizá-las com a Cadeia Crítica. Estes buffers protegem a Cadeia Crítica de possíveis atrasos em atividades não essenciais.

4. Salvaguardar: Evitar Multitarefas, Eliminar Restrições e Definir Buffers de Recursos

Incentivar uma abordagem focada, desencorajando a multitarefa. A concentração em tarefas individuais reduz a complexidade e contribui para a eficiência geral do projeto.

Identificar e eliminar quaisquer restrições que possam impedir o fluxo eficiente de trabalho. Remover obstáculos é fundamental para otimizar a execução das tarefas.

Estabelecer buffers de recursos antes de tarefas críticas que requerem recursos essenciais, como mão de obra ou equipamento. Estes, ajudam a garantir a disponibilidade de recursos quando necessário.

5. Controlar: Consumo de Buffers

Monitorizar atentamente o consumo do buffer do projeto ao longo do projeto. O acompanhamento regular permite ajustes proativos para manter o projeto no caminho certo.

Controlar o consumo de recursos e os buffers de alimentação para garantir que as atividades não críticas não afetam adversamente a Cadeia Crítica. A gestão cuidadosa desses elementos contribui para o sucesso global do projeto.

Controlo do consumo de recursos e buffers de alimentação

Sem folga na duração das tarefas individuais, os recursos são incentivados a focar na tarefa que está a decorrer para concluí-la e passá-la para a próxima pessoa ou grupo. Aqui, o objetivo é eliminar a má prática da multitarefa e isso é conseguido fornecendo as prioridades a todos os recursos. Cada elemento do projeto é estimulado a movimentar-se o mais rapidamente possível: quando estão a realizar a sua “etapa” do projeto, devem concentrar-se em concluir a tarefa atribuída o mais rápido possível, minimizando distrações e o multitasking.

Aqui, pretende-se superar a tendência de adiar o trabalho ou fazer trabalho extra quando parece haver tempo. Isto contrasta com a gestão de projetos “tradicional” que monitoriza datas de início e conclusão das tarefas. O MCC incentiva as pessoas a movimentarem-se o mais rapidamente possível, independentemente das datas.

Como a duração das tarefas foi planeada com base na probabilidade de 50%, há pressão sobre os recursos para concluir as tarefas da cadeia crítica o mais rapidamente possível, superando a “Síndrome do Estudante” e a “Lei de Parkinson”, anteriormente referidas.

Conclusão

Em conclusão, a implementação da Cadeia Crítica na gestão de projetos revela-se uma abordagem transformadora, proporcionando uma série de vantagens que contribuem significativamente para o sucesso global do projeto. Ao melhorar as convenções do Método do Caminho Crítico e PERT, a Cadeia Crítica destaca-se pela sua ênfase na gestão eficiente de recursos, identificação proativa de restrições e estratégias inovadoras de gestão de tempo.

Olhando para o futuro, a Cadeia Crítica está posicionada como uma abordagem inovadora que continuará a moldar o cenário da gestão de projetos. À medida que as organizações procuram métodos mais ágeis e eficazes, a ênfase na gestão de recursos, identificação de restrições e previsibilidade do cronograma torna-se cada vez mais crucial. A Cadeia Crítica, com a sua abordagem única e foco na eficiência global, está bem posicionada para desempenhar um papel central na evolução contínua das práticas de gestão de projetos.

Ainda tem dúvidas sobre o Planeamento da Cadeia Crítica?

O que é o PERT?

O PERT (Program Evaluation Review Technique), ou Técnica de Avaliação e Revisão de Programas, é uma técnica de gestão de projetos que foi desenvolvida para lidar com a incerteza associada aos tempos de conclusão das tarefas ou atividades. Foi introduzido no final da década de 1950 para apoiar projetos complexos, especialmente aqueles relacionados a pesquisa e desenvolvimento. O PERT usa três estimativas de tempo para cada atividade do projeto: otimista, pessimista e mais provável. Com base nessas estimativas, é calculada uma estimativa ponderada, que é usada para determinar a duração esperada da atividade. O método PERT também considera a variação dessas estimativas para calcular a margem de segurança e ajudar na gestão de projetos, especialmente quando há incerteza nas durações das atividades.

O que é um Buffer?

Um buffer, no contexto da Cadeia Crítica e da gestão de projetos, refere-se a uma reserva de tempo inserida estrategicamente no cronograma do projeto para acomodar incertezas e variações. É uma técnica fundamental para gerir a variabilidade nas durações das atividades e garantir que o projeto será concluído no prazo, mesmo diante de possíveis atrasos. Existem vários tipos de buffers utilizados na Cadeia Crítica:

  • Buffer do Projeto: Colocado no final do projeto, entre a última tarefa crítica e de término do projeto. Age como uma contingência para proteger contra atrasos no caminho crítico.
  • Buffer de Alimentação: Colocado no final de cadeias não críticas para sincronizar as suas durações com a Cadeia Crítica. Se houver atrasos nessas cadeias, o buffer de alimentação evita que isso afete a Cadeia Crítica.
  • Buffer de Recursos: Colocado antes de uma tarefa crítica que requer recursos essenciais, como mão de obra ou equipamento. Garante a disponibilidade desses recursos quando necessários para a conclusão da tarefa.

Os buffers são geridos ativamente durante a execução do projeto e o seu consumo é monitorizado para garantir ações proativas e assegurar que o projeto será entregue dentro dos prazos estabelecidos.

Saiba mais sobre Desenvolvimento Lean de Produtos

  Saiba como melhorar esta área

Receba as últimas novidades sobre o Kaizen Institute