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Barómetro Económico Kaizen Os principais desafios do contexto económico atual

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Sob a pressão de uma inflação elevada, uma crise energética por resolver, um conflito militar que não dá tréguas e taxas de juro galopantes, 2023 promete ser um dos anos mais desafiantes para a economia.

A mais recente edição do Barómetro KAIZEN™, um estudo de opinião desenvolvido semestralmente pelo Kaizen Institute em Portugal, inquiriu mais de 250 gestores sobre estes e outros temas com impacto no contexto económico atual. Os inquiridos são administradores de médias e grandes empresas que atuam no mercado português e que no seu conjunto representam mais de 35% do PIB nacional. Estes partilharam a sua opinião quanto à evolução da economia e dos seus negócios, identificando constrangimentos e desafios.

Como fazer face à instabilidade gerada pela inflação e pela crise energética

É de notar que 44% e 26% dos inquiridos aponta, respetivamente, a inflação e a crise energética, como dois dos temas mais impactantes na economia. Estes fatores posicionam as organizações num ambiente desafiante, sendo pressionadas por mudanças nos hábitos de consumo e maior exigência relativamente à transparência nas cadeias de produção e de abastecimento, o que diminuiu as suas margens de lucro.

As empresas estão preocupadas em garantir as suas margens e, para isso, têm de ser tomadas medidas de curto prazo. As principais iniciativas que têm vindo a ser levadas a cabo passam pelo aumento dos preços de venda (para 23% dos inquiridos), enquanto 21% destaca a melhoria da eficiência energética.

Quanto aos custos associados ao consumo de energia, estes irão continuar a ter um impacto significativo na estrutura de custos da maior parte das organizações, principalmente no setor industrial. A esmagadora maioria dos inquiridos (61%) irá utilizar uma estratégia de aumento de eficiência energética de equipamentos e instalações para fazer face a este desafio. Para isso, é essencial garantir uma medição eficaz dos consumos energéticos de instalações e equipamentos, assim como proceder a uma análise rigorosa do custo-benefício de todas as potenciais intervenções. Através da utilização de ferramentas estruturadas de resolução de problemas complexos (análise detalhada da situação atual e das causas-raiz, terminando com a definição e teste de soluções), é possível, em equipa, alcançar resultados na ordem dos 13% de redução do custo energético atual.

Ainda na linha da melhoria da eficiência energética, é importante mencionar que a maioria dos gestores se responsabilizam cada vez mais pelo impacto que as organizações que lideram, têm na comunidade e no mundo, e afirmam que as práticas sustentáveis são uma prioridade estratégica. Assim, 32% dos gestores afirmam que têm investido entre 1% e 3% da sua receita na componente de sustentabilidade.

Qual é o efeito deste contexto no cumprimento dos objetivos das empresas?

Apesar da instabilidade de mercado identificada, 2022 acabou por ser um ano positivo para os empresários portugueses já que 74% admitiu ter cumprido ou ultrapassado os objetivos a que se propuseram neste último ano. Além disso, o grau de confiança dos gestores sobe ligeiramente face à última edição do barómetro (julho 2022) passando de 10,95 para 11,16. Ainda assim, estes mantêm-se cautelosos e 86% afirma que as previsões da Comissão Europeia são realistas, acreditando que o crescimento do PIB em Portugal será inferior a 1%, em 2023.

No que diz respeito ao novo Orçamento do Estado, apenas 8% dos inquiridos acredita que este terá um efeito positivo na sua organização. Já no que toca ao Plano de Recuperação e Resiliência, um importante instrumento ao qual se tem vindo a recorrer, 43% dos empresários inquiridos confirma não estar a fazer investimentos no âmbito do PRR.

A importância da transformação digital para as empresas

A transformação digital continua a ser vista como um importante meio para potenciar o aumento da criação valor das empresas e um fator primordial para assegurar a competitividade dos negócios. O termo transformação digital refere-se ao processo de alavancar as oportunidades apresentadas pelas tecnologias digitais para mudar fundamentalmente o modelo de negócio. Para que esta transformação seja bem-sucedida, as organizações devem adotar uma abordagem holística e faseada, que abranja pessoas, processos e tecnologias. Assim, numa primeira fase, devem ser trabalhadas a cultura de melhoria e a arquitetura de processos nas quais virão a assentar as 3 camadas de digitalização: automação flexível, conectividade e Inteligência Artificial.

No contexto nacional, a maioria das empresas encontra-se numa fase avançada desta transformação, sendo que 59% já está mesmo a desenvolver a automação e digitalização dos processos. Por outro lado, 2% dos inquiridos revela ainda não o fazer.

Data Analytics & AI

As soluções de Data Analytics e de AI têm-se destacado enquanto importantes aliadas na otimização de processos, na redução de custos, no aumento de produtividade e na identificação de insights acionáveis, que podem melhorar a experiência do cliente. A normalização de fenómenos como a IoT fez com que as interações com diferentes dispositivos se tornassem numa fonte de informação sobre os utilizadores. Este conhecimento tem enorme potencial para criar crescimento nos negócios, mas, sem organizar e analisar os dados, a sua utilidade é limitada.

Além disto, a utilização de Big Data Analytics possibilita a criação de um framework de decisão que permite visualizar as diferentes áreas de um negócio, compreender a interligação de processos e as possíveis consequências que podem surgir de uma decisão. Ainda, a tomada de decisão com base em dados, face à tomada de decisão com base em perceções, diminui o potencial para erros e permite avançar com soluções mais eficientes, de forma mais ágil.

A aplicação de Data Analytics deve ser transversal a todos os departamentos, assumindo um papel de destaque na gestão e crescimento de uma organização. Só é possível potenciar a análise de dados garantindo um alinhamento das equipas com uma estratégia data-driven apropriada aos recursos e objetivos da organização. Caso a implementação desta cultura de Data Analytics seja bem-sucedida, será possível crescer de forma disruptiva.

No que respeita à maturidade analítica das organizações dos inquiridos, 38% afirma que as suas equipas estão capacitadas para usar os dashboards e as árvores de dados na resolução de problemas e tomada de decisão.

Inovação

A inovação mantém-se também uma das principais peças chave no crescimento das empresas e está no centro das suas estratégias. Perseguindo a vontade de inovar, o investimento em novos produtos ou serviços (34% dos inquiridos) e a melhoria dos atuais processos de negócio (29%) têm sido as principais apostas de inovação que as empresas estão a implementar.

Ainda assim, segundo 29% dos empresários, uma das maiores barreiras com que as suas empresas se deparam no processo de inovação, é a ausência de um processo estruturado que permita testar e escalar novas ideias de negócio. Investir dinheiro que pode não trazer retorno em vendas é o maior risco da inovação. Este risco gera-se ao desenvolver produtos ou serviços que os clientes não querem ou não estão preparados para comprar e, por isso, é necessário ter diferentes processos para diferentes tipos de inovação.

Quando se fala em lançar novos produtos ou serviços sabendo, de antemão, que existe mercado e qual o tamanho do mesmo, existem processos de desenvolvimento ágil que permitem desenvolver rápido, a custos controlados, de acordo com as especificações do cliente. Estes são os tradicionais processos de R&D. No entanto, sempre que existe incerteza de mercado, é necessário aplicar outro tipo de processo.

É importante saber se o cliente tem interesse no produto/serviço (desirability), se é possível desenvolvê-lo (feasability) e se é possível monetizar com rentabilidade (viability). Qualquer ideia de negócio inovadora deve conseguir responder a estas perguntas antes de entrar numa fase de lançamento/scale-up. Quanto mais rápido e a mais baixo custo se conseguir descobrir as ideias que não encontram evidências de mercado, mais depressa se podem excluir essas mesmas e investir o esforço noutras mais promissoras.

Portanto, sabendo que as taxas de sucesso são baixas e os níveis de incerteza altos, é fundamental a criação de um portfólio de inovação em que a decisão sobre avançar ou parar depende apenas da quantidade de evidências de mercado que se consegue obter.

O lançamento de novos produtos como principal estratégia de crescimento

Mesmo com as dificuldades identificadas relativas à inovação, para 31% dos inquiridos, o lançamento de novos produtos e serviços continua a ser uma das principais estratégias de crescimento que estes pretendem adotar em 2023.

Apesar de esta ser uma das estratégias mais convencionais das empresas quando se fala em inovação, existe uma oportunidade da qual cada vez mais organizações estão a tirar partido – repensar os modelos de negócio ou criar de raiz. Em muitos setores, esta necessidade surge pelo aparecimento constante de start-ups que, não tendo legacy, podem ser mais criativas na forma como abordam o mercado. É importante que as empresas criem mecanismos para identificar e implementar novos modelos de negócio, sendo que estes podem ser mais focados em alterações na proposta de valor e segmentos de cliente, apontar para o modo operativo, ou centrar-se na forma como monetizam o trabalho.

Mais de metade dos inquiridos referiu apostar numa estratégia de lançamento de novos produtos ou serviços para conseguir crescer. Isto reflete a necessidade das empresas de responder às expectativas de procura dos consumidores, assim como, planear eficazmente as atividades a realizar, adaptando rapidamente as estratégias às condições do mercado. Os novos ritmos requerem uma capacidade de adaptação ágil, e as organizações que acompanham melhor o mercado e que rapidamente se adaptam são as que conseguem antecipar-se à concorrência e fazer a diferença.

A entrada em novos mercados/geografias foi outra das estratégias mais escolhidas (25% dos gestores). Isto mostra a necessidade de as organizações recorrerem ao Marketing Intelligence para obterem informação relevante dos mercados e tomarem decisões precisas e fiáveis na determinação de novas oportunidades de mercados e estratégias de penetração.

Ainda, destacou-se a melhoria da força de vendas, escolhida por 16% dos inquiridos, sendo necessário passar, cada vez mais, por uma estratégia integrada do Marketing com as Vendas, com um foco na melhoria contínua da experiência do cliente. É necessário gerir melhor a forma como se utilizam as tecnologias disponíveis e ainda desenvolver novos tipos de competências.

A responsabilidade social é cada vez mais uma preocupação

O impacto social que as empresas têm na vida da comunidade e dos trabalhadores terá tendência a ser uma preocupação reforçada, em 2023, com especial destaque para a satisfação e bem-estar dos clientes, assim como um maior foco na cooperação com fornecedores.

Os inquiridos referem uma preocupação significativa relativamente ao desenvolvimento do capital humano, levando-nos a prever que esta poderá levar a iniciativas como: desenvolvimento de melhores normas de trabalho com suporte de confirmação de processo, implementação de academias de formação de competências base e plataformas de aprendizagem para satisfação de necessidades específicas, coaching e programas de desenvolvimento pessoal, criação e melhoria dos planos de progressão de carreira – orientados para objetivos – e, definição de sistemas de acompanhamento da Voice of Employee.

Neste sentido, 42% dos inquiridos assume que uma das principais prioridades nas suas empresas em 2023, é a aposta em práticas de trabalho justas e responsáveis, incluindo condições de trabalho saudáveis e seguras, remuneração justa, direitos trabalhistas e equidade de género.

Principais Conclusões

É evidente que Portugal encontra-se perante uma nova narrativa de investimento. Apesar das perspetivas parecerem positivas e os empresários estarem mais otimistas, o país continua a viver num clima de incerteza. À medida que a inflação pressiona os preços da energia e das matérias-primas, e a incerteza geopolítica e a pandemia perturbam as cadeias de abastecimento, tópicos como a digitalização e a sustentabilidade tornam-se críticos. Por conseguinte, as organizações devem operar com visão, inovação e adaptabilidade, adotando uma mentalidade mais centrada no cliente e reinventando as cadeias de abastecimento, de forma a reduzir os custos e melhorar as margens. É necessário para as empresas redefinir a proposta de valor e alinhar a estratégia com os objetivos dos stakeholders, garantindo soluções que permitam catalisar o negócio, sem aumentar os custos, apostando na digitalização e na sustentabilidade.

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