Implementação do Kaizen para o fluxo em pull na supply chain

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Implementação do Kaizen para o fluxo em pull na supply chain​

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Este artigo explora como os princípios Kaizen podem ser aplicados para melhorar o fluxo e a eficiência em toda a supply chain. Esta metodologia tem por base paradigmas que desafiam as práticas tradicionais de gestão e produção, tais paradigmas centram-se na crença de que existe sempre espaço para a melhoria e que cada membro da organização tem um papel vital a desempenhar nesse processo. A integração do pensamento Kaizen para criar um sistema de fluxo em pull é uma estratégia que almeja sincronizar a produção e a logística, minimizando o desperdício e maximizando o valor para o cliente.

Compreensão dos princípios Kaizen na Supply Chain

O paradigma do fluxo em pull Kaizen, inovado pela Toyota Motor Corporation, foi implementado em todas as suas cadeias de abastecimento. Representa um modelo operacional completamente novo, baseado na criação de um fluxo impulsionado por pedidos dos clientes e na melhoria contínua desse fluxo.

Criação do fluxo

Criar um fluxo significa iniciar o movimento de materiais e informações através de qualquer supply chain. Este movimento deve ser impulsionado por pedidos de cliente ou pelo consumo dos mesmos, sendo que dentro do contexto da supply chain, o movimento de materiais e informações começa com o cliente. Os consumidores consomem (puxam) produtos (materiais) das lojas ou pontos de venda, que por sua vez puxam stock dos centros de distribuição de produtos e, por fim, os centros de distribuição puxam das empresas de produção, que recorrem à sua rede de fornecedores.

Uma perspetiva diferenciada

Ver o fluxo de materiais e informações a partir do seu elemento final  – cliente – é um ponto crítico de distinção de outros sistemas. Este é o sistema que a Toyota desenvolveu e aplicou às suas supply chain, começando pelos concessionários de automóveis e recuando para todos os seus fornecedores. É um sistema cujos princípios fundamentais são o fluxo em pull (fluxo de uma peça puxada pelo consumo) e um forte empenho no Kaizen Diário, em todo o lado, por todos os envolvidos na supply chain.

Os princípios do fluxo em pull Kaizen

Para implementar este sistema, as empresas precisam de estabelecer um forte compromisso com alguns princípios-chave do fluxo em pull Kaizen. Estes princípios incluem:

  • Qualidade em primeiro lugar: a qualidade é a base do sistema de fluxo em pull Kaizen pois,  garantir que cada produto e serviço responda ou supere as expetativas dos clientes é primordial;
  • Orientação para o Gemba: Gemba, significa “o local real” em japonês, refere-se ao local onde o valor é criado. No contexto da supply chain, a orientação para o Gemba enfatiza a importância de compreender os processos no chão de fábrica e nos pontos de transferência de valor;
  • Eliminação de desperdício: remoção contínua de desperdício em todas as formas, incluindo o excesso de produção, tempo de espera e defeitos, levando a uma supply chain sustentável.
  • Desenvolvimento de pessoas: o crescimento e a melhoria contínuos são alcançados através do desenvolvimento das competências e habilidades das pessoas que compõem a supply chain;
  • Standards visuais: utilizar representações visuais para normalizar procedimentos e comunicar informações de forma eficiente através da supply chain;
  • Processo e resultados: o foco não está apenas nos resultados finais, mas também em melhorar os processos que conduzem a esses resultados;
  • Pensamento de fluxo em pull: adotar uma mentalidade que prioriza o fluxo em pull pela procura, em contraste com o modelo tradicional de empurrar inventário através da supply chain.

Estes princípios são a base do sistema de fluxo em pull Kaizen e são essenciais para o sucesso na implementação de uma supply chain eficiente e responsiva. Vamos agora explorar como adotar os princípios do fluxo em pull Kaizen na prática.

Enfatizar a qualidade e o significado do Gemba

A incansável procura pela qualidade reflete uma filosofia mais profunda que entrelaça o tangível com o intangível, o princípio com a prática. Esta procura não é apenas sobre a adesão a standards, mas sobre encarnar a própria essência da excelência em cada aspeto da supply chain.

Priorizar a qualidade em cada etapa

O princípio de “Qualidade em primeiro lugar” é um testemunho da filosofia Kaizen, onde a procura pela excelência começa com os líderes do movimento de qualidade e continua através das ações diárias de cada colaborador. Este conceito é reforçado pelo princípio de “mercado interno”, que se concentra em compreender as necessidades de Qualidade Custo e Entrega (QCD – Quality, Cost and Delivery) dos clientes com base em dados factuais para antecipar e satisfazer os desejos ainda não expressos. O desenvolvimento do iPhone pela Apple exemplifica este princípio, pois não se baseou em estudos de mercado, mas sim na visão de criar uma experiência superior para o cliente, o que levou a um telemóvel revolucionário.

Além disso, o princípio de que “a próxima operação é o cliente” é essencial, pois transforma a empresa numa cadeia de fornecedores e clientes, onde cada elo está comprometido em entregar zero defeitos. É uma abordagem a montante que procura corrigir problemas na sua origem, garantindo qualidade em todas as etapas.

Qual é o papel do Gemba na otimização da supply chain?

Após perceber mais sobre o conceito de qualidade, surge o domínio do Gemba, onde estes princípios são colocados em ação. A orientação para o Gemba é o sucessor natural da mentalidade de qualidade em primeiro lugar, reforçando a ideia de que a verdadeira otimização da supply chain é alcançada ao confrontar a realidade no terreno. É uma mudança da qualidade teórica para a qualidade em movimento, passando do abstrato para o concreto.

Esta orientação também defende a ideia de que, para compreender totalmente um conceito, é necessário envolver-se diretamente com o mesmo. Na procura pela excelência operacional, os princípios de qualidade e da orientação para o Gemba conduzem a um ponto crucial, e é com uma base de standards de qualidade robustos e perceções do Gemba que se está pronto para abordar os próximos pilares críticos do Kaizen na supply chain: eliminação de desperdício e desenvolvimento de pessoas. Estes princípios não são independentes, mas sim interdependentes e complementares. O foco na qualidade e os conhecimentos adquiridos no Gemba preparam o terreno para identificar e remover ineficiências e cultivar uma força de trabalho capaz de sustentar e construir sobre essas melhorias.

Foco na eliminação de desperdícios e no desenvolvimento de pessoas

A jornada em direção a uma supply chain lean e otimizada continua com um duplo foco: a procura incansável pela eliminação de desperdício e o desenvolvimento estratégico da força de trabalho, sendo estes elementos sinérgicos. As perceções obtidas no Gemba, onde o valor é criado e o trabalho é executado, são indicadores claros de onde o desperdício pode ser removido. Desta forma, um compromisso com a qualidade leva naturalmente ao reconhecimento do papel que as pessoas desempenham na manutenção destes standards. À medida que se eliminam as camadas de atividades que não acrescentam valor, é feito um investimento, simultaneamente, nas pessoas que trazem valor a cada processo, decisão e interação com o cliente.

Estratégias para uma redução eficiente de desperdícios

O Kaizen identifica a eliminação de desperdício como o primeiro princípio na criação de um sistema de fluxo em pull que seja eficiente e responsivo. São categorizados sete tipos críticos de desperdício: produção em excesso; pessoas em espera; material ou informação em espera; movimento de pessoas; transporte de material; sobre-processamento; erros e defeitos. Cada um representa uma oportunidade para operações mais lean e serve como alvo para as estratégias de melhoria contínua do Kaizen.

Tabela com os 7 tipos de desperdício

Esta abordagem metódica ao desperdício está enraizada no conceito dos três Ms: Muda (desperdício), Mura (variabilidade) e Muri (sobrecarga). Muda é o alvo direto das estratégias de eliminação de desperdício, Mura aborda as inconsistências que interrompem o fluxo, e Muri concentra-se em remover a tensão que sobrecarrega os colaboradores e os processos. Juntos, estes conceitos formam um quadro abrangente para identificar ineficiências e pavimentar o caminho para uma supply chain otimizada.

Diagrama dos 3Ms (Muda, Mura e Muri)

Como cultivar uma força de trabalho qualificada na supply chain?

Complementando a redução de desperdício, o Kaizen coloca um imenso ênfase no desenvolvimento de pessoas. É um reconhecimento de que a força de trabalho não está separada do sistema, mas é uma parte central do mesmo ao envolver as equipas em atividades de melhoria e ao fomentar um ambiente de responsabilidade coletiva onde a aprendizagem é vital. Este envolvimento leva ao desenvolvimento orgânico de novos hábitos de trabalho que contribuem para os objetivos Kaizen.

A transformação de uma força de trabalho numa cultura centrada no Kaizen requer uma mudança de hábitos e mentalidades. Cada melhoria ou mudança é uma oportunidade para substituir hábitos antigos por outros melhores e mais eficientes. Contudo, para que esta mudança cultural se enraíze, todos, desde a gestão de topo até ao chão de fábrica, devem estar envolvidos, pois as equipas focadas no Kaizen são fundamentais neste processo, servindo como a ligação entre o desenvolvimento individual e o progresso organizacional.

O impacto dos standards visuais e do pensamento orientado para os processos

Na transição da eficiência da eliminação de desperdício e da promoção de uma força de trabalho qualificada, a filosofia Kaizen introduz outro conceito transformador: o uso de standards visuais e um foco equilibrado em processos e resultados. Este segmento da prática Kaizen é sobre transcender as instruções tradicionais verbais e escritas, utilizando pistas visuais para uma maior clareza e garantindo que cada passo do processo seja tão valioso quanto o resultado final.

Implementar standards visuais para obter uma maior clareza e eficiência

Os standards visuais envolvem a crença de que uma imagem vale mais do que mil palavras e, neste contexto, representam o meio mais eficiente de normalizar tarefas. Quando as tarefas são definidas visualmente, tornam-se menos suscetíveis à variabilidade, sendo este um princípio crucial no Gemba, onde a clareza e a eficiência são de extrema importância. Servem como exemplo imagens, desenhos e ícones que podem transmitir informações mais rapidamente e eficazmente do que documentos com muito texto, pois acabam por proporcionar uma compreensão imediata e reduzem a possibilidade de interpretações erradas.

O standard work, otimiza os movimentos dos trabalhadores e o fluxo de materiais. Ao tornar estes standards visíveis, torna-se mais fácil observar as ações necessárias, o tempo e as informações cruciais que sustentam o fluxo contínuo de materiais, o que é essencial no sistema de fluxo em pull do Kaizen.

Como equilibrar processos e resultados para um desempenho ótimo

O Kaizen também enfatiza o princípio de “Processo e Resultados”, que argumenta contra o foco exclusivo nos resultados sem considerar o método. Este princípio é vital para aqueles comprometidos com a mentalidade Kaizen pois insiste numa análise detalhada dos processos e na melhoria contínua. Assim, como um golfista trabalha para melhorar o seu swing, as organizações também devem refinar cada elemento das suas operações, desde o equipamento até à preparação mental, para alcançar resultados excecionais.

O pensamento orientado para o processo e resultados no Kaizen atribui igual peso à jornada e ao destino. Garante que as equipas não só visem um objetivo acordado, mas também apreciem o caminho percorrido para alcançá-lo. Este foco duplo ajuda a verificar se as melhorias de processo estão efetivamente a contribuir para os resultados desejados, levando a um desempenho e crescimento sustentável.

Como dominar o pensamento de fluxo em pull na gestão da supply chain

A adoção do pensamento de fluxo em pull requer uma mudança de paradigma nas operações convencionais da supply chain. É o princípio organizador de uma supply chain responsiva e centrada no cliente que alinha a logística interna e os fluxos de produção com a procura do consumidor em tempo real. Ao focar na eliminação do Muda, especificamente na espera de material ou de inventário, as empresas podem criar um sistema onde cada elemento da supply chain é ativado pelo consumo do cliente, reduzindo assim o desperdício e aumentando a eficiência.

O conceito de um fluxo contínuo de materiais, idealmente em unidades individuais, pode parecer contraintuitivo perante os modelos tradicionais de eficiência. No entanto, o Sistema de Produção Toyota exemplifica o sucesso desta abordagem, provando que o pensamento de fluxo em pull pode conduzir à excelência operacional notável quando devidamente compreendido e aplicado.

Adotar e implementar os princípios do fluxo em pull

A adoção dos princípios do fluxo em pull é uma jornada que começa com um compromisso de aprender e compreender os princípios-chave do Kaizen. Para muitos gestores, o desafio reside em ir além de um entendimento superficial desses princípios e alcançar uma apreciação mais profunda do seu potencial. É crucial reconhecer o valor do pensamento de fluxo em pull e fazer um esforço para internalizar e aplicar esses princípios dentro da organização.

Técnicas-chave para uma implementação eficaz do fluxo em pull

Para implementar eficazmente o pensamento de fluxo em pull, as organizações podem recorrer a várias técnicas-chave. Uma das mais impactantes são os workshop Kaizen, que envolvem membros-chave da equipa num esforço focado para identificar desperdício, eliminá-lo e, em seguida, sustentar os novos processos mais eficientes. Estes workshops são frequentemente melhor demonstrados no Gemba, permitindo aos participantes experienciar os princípios em ação e ver em primeira mão os benefícios de um sistema de fluxo em pull.

Compreender o pensamento de fluxo em pull não é apenas um exercício académico, visto que requer ação e experimentação. As empresas podem começar com projetos-piloto ou implementações de escala limitada para testar e aprender com esta abordagem. O trabalho pioneiro da Toyota nesta área serve tanto como inspiração quanto como modelo, sugerindo que qualquer empresa pode inovar dentro da sua indústria aplicando estes princípios.

Manter o sistema: manutenção e melhoria contínua

A sustentabilidade no contexto do Kaizen é sinónimo de manter os ganhos alcançados através de um planeamento e execução meticulosos. Trata-se de garantir que o ímpeto do sistema continue ininterrupto, um conceito referido como Gestão Total do Fluxo (Total Flow Management – TFM) no contexto de práticas sustentáveis da supply chain.

A chave para evitar esta regressão é aliciar-se a uma transformação em grande escala, tocando todos os aspetos do sistema operacional, incluindo o armazenamento e a distribuição. Assim, esta será uma transformação abrangente, que altera todas as nuances subtis e envolve todas as funções dentro da empresa. É uma transformação lean no verdadeiro sentido da palavra, onde os princípios de fluxo em pull não são apenas adotados, mas integrados no próprio tecido da organização.

Para ser eficaz, a transformação deve incluir não apenas as operações internas, mas também os clientes e fornecedores. O sistema TFM propõe uma abordagem holística, começando pela posição da empresa dentro da supply chain e expandindo-se para fora, garantindo um fluxo contínuo de materiais e informações através do armazenamento e distribuição.

Esta estrutura exige a implementação de sistemas rigorosos, a adoção de processos bem definidos e o cumprimento de standards elevados para assegurar a fluidez do fluxo operacional e garantir que a supply chain funcione com prazos de entrega reduzidos, minimizando o desperdício e otimizando a produtividade. O objetivo é criar um fluxo contínuo em toda a supply chain, impulsionado pela procura real em vez de previsões, suportado por ciclos de transporte de alta frequência que muitos gestores podem inicialmente considerar desafiadores de aceitar.

Ao reduzir o tempo total de espera na supply chain, as empresas podem alcançar benefícios significativos, incluindo a redução de custos, o aumento da produtividade, a melhoria da qualidade e níveis mais elevados de satisfação do cliente. De modo a conseguir alcançar estes resultados é necessário um esforço para manter e melhorar continuamente o novo sistema, o que representa um avanço na entrega de qualidade, custo e prazo dentro da gestão da supply chain lean.

Em suma, sustentar o sistema é mais do que apenas manter o status quo. Trata-se de fomentar uma cultura que incorpora o espírito Kaizen de melhoria contínua, onde cada colaborador, em todos os níveis, está envolvido no processo de otimizar a supply chain e torná-la mais responsiva, mais eficiente e mais sintonizada com as procuras do mercado.

Ainda tem dúvidas sobre o fluxo em pull na supply chain?

O que é o pensamento fluxo em pull?

O pensamento de fluxo em pull é um conceito central no Kaizen que gira em torno da criação de um sistema de supply chain impulsionada pela procura real do cliente. Neste pensamento, o fluxo de materiais e informações começa com os pedidos ou consumo do cliente, defendendo um fluxo contínuo de materiais, idealmente em unidades individuais ou lotes adaptados à procura em tempo real. Esta abordagem reduz o desperdício, minimiza o inventário e aumenta a eficiência, garantindo que os produtos sejam produzidos e entregues apenas quando necessário, em vez de antecipar a procura futura.

O que é a redução de desperdícios no Kaizen?

A redução de desperdício no Kaizen refere-se à identificação e eliminação sistemáticas de várias formas de desperdício nos processos de uma organização. O Kaizen categoriza sete tipos críticos de desperdício: produção em excesso; pessoas em espera; material ou informação em espera; movimento de pessoas; transporte de material; sobre-processamento; erros e defeitos. O objetivo é simplificar as operações, removendo atividades, processos ou recursos que não acrescentam valor ao produto ou serviço final. A redução de desperdício é um princípio fundamental no Kaizen, pois leva a um aumento da eficiência, economia de custos e melhoria da qualidade. Envolve esforços contínuos para identificar e eliminar desperdícios em todos os níveis da organização, contribuindo, em última análise, para a criação de uma operação lean e otimizada.

Esta prática de redução de desperdício não é um evento único, mas um processo contínuo de melhoria, envolvendo todos na organização, desde a liderança até aos colaboradores da linha da frente, e requer uma mudança de mentalidade para identificar e questionar constantemente as práticas existentes. Ao incorporar a redução de desperdício nas suas operações diárias, as empresas podem não só melhorar a eficiência e a produtividade, mas também aumentar a satisfação do cliente e a sustentabilidade do negócio a longo prazo.

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