Foi com enorme satisfação que reunimos, uma vez mais, o nosso distinto painel de membros para analisar os resultados da mais recente edição do Barómetro Económico KAIZEN™. Este estudo, dinamizado pelo Kaizen Institute, permite compreender a perceção dos líderes empresariais sobre o atual contexto económico e os desafios emergentes.
O Barómetro Económico KAIZEN™ conta com a participação de um painel composto por mais de 250 CEOs e Administradores de médias e grandes empresas nacionais, proporcionando uma visão abrangente sobre a realidade empresarial em Portugal. O seu principal objetivo é auscultar a opinião dos empresários e avaliar os desafios e constrangimentos que os gestores enfrentam na sua atividade diária.
A mais recente edição deste estudo foi marcada por um debate enriquecedor, onde se discutiram as principais tendências e desafios do panorama económico nacional. Expressamos o nosso profundo agradecimento aos oradores convidados, cujo contributo foi fundamental para a profundidade e relevância da análise apresentada.
Sessão de Lisboa, 26 de março de 2025:
- Comentário Económico: Carlos Moedas | Keynote Speaker
- João Ricardo Moreira, Administrador | NOS SGPS
- Luís Menezes, CEO | Grupo Ageas Portugal
- Manuel Nobre Gonçalves, Chief Commercial Officer e Membro do Conselho Executivo | Sugal Group
- Marcela De Mello Breyner, Chief Marketing Officer | Amorim Luxury Group
Sessão do Porto, 27 de março de 2025:
- Comentário Económico: Óscar Afonso | Keynote Speaker
- Carlos Mota Santos, CEO | Mota-Engil
- Francisco Espregueira Mendes, Managing Partner | TELLES
- José Soares, Managing Director | Sika
- Pedro Moreira da Silva, CEO | Cerealis
O envolvimento ativo dos participantes e a excelência das intervenções reforçam a importância deste estudo na identificação de oportunidades de melhoria e no desenvolvimento de estratégias mais eficazes para enfrentar os desafios do mercado. Continuaremos a promover este espaço de reflexão e partilha, contribuindo para um ecossistema empresarial mais resiliente e preparado para o futuro.
Do panorama político nacional à economia global: os desafios que moldam o futuro das empresas
O ambiente económico global encontra-se marcado por incertezas que têm resultado numa desaceleração económica generalizada e numa instabilidade política com repercussões em diversos mercados. As empresas portuguesas operam num contexto económico volátil, onde a escassez de mão de obra qualificada e as crescentes exigências de práticas sustentáveis impõem uma necessidade constante de adaptação e inovação. Além disso, a instabilidade política interna tem tornado o planeamento estratégico a longo prazo ainda mais desafiante.
A recente queda do governo português gerou um clima de incerteza, refletindo-se tanto no panorama político como no contexto económico nacional. Esta conjuntura tem suscitado preocupações entre os líderes empresariais, sobretudo no que diz respeito à estabilidade do país no curto e médio prazo. Apesar do cenário de instabilidade, 59% dos gestores acreditam que a situação estabilizará a curto prazo. Para estes, a turbulência política não deverá comprometer os avanços estruturais alcançados nos últimos anos, sendo vista como um fator transitório no desenvolvimento económico do país. Contudo, 33% dos inquiridos expressam apreensão, considerando que a incerteza política poderá intensificar os desafios económicos e dificultar a recuperação do país. Paralelamente, 5% defendem que a economia já se encontrava fragilizada antes da crise governamental, encarando este acontecimento como mais um elemento num cenário já adverso. Por outro lado, 3% dos gestores identificam uma oportunidade nesta conjuntura para redefinir o rumo político e económico de Portugal, perspetivando eventuais mudanças estruturais que possam contribuir para um modelo de desenvolvimento mais robusto.
Apesar das vicissitudes, a economia portuguesa tem demonstrado uma notável capacidade de adaptação. Mesmo num cenário de imprevisibilidade, as empresas têm ajustado estratégias e procurado soluções para manter a sua competitividade. Prova disso, é que 70% dos empresários afirmam ter cumprido, ou até superado, os objetivos traçados para 2024, evidenciando a resiliência do tecido empresarial.
Outro tema de relevância nacional em destaque foi a identificação das principais áreas da Administração Pública que requerem maior intervenção e reestruturação, para melhorar a eficiência e a qualidade dos serviços prestados. A Justiça surgiu como a área prioritária, apontada por 86% dos inquiridos, seguida da Saúde, com 79% dos votos.
Além de identificar as áreas mais críticas da Administração Pública, analisou-se, também, de que forma a sua gestão poderia ser otimizada. Questionou-se, então, sobre o impacto que os gestores do setor privado poderiam ter na melhoria da gestão do Estado. A reflexão surge no seguimento da recente nomeação de Elon Musk para liderar um departamento de eficiência governamental nos Estados Unidos, um facto que sublinha a crescente procura por soluções inovadoras e eficazes na gestão pública. Neste contexto, 38% dos empresários reconhecem a importância de trazer para o setor público práticas de eficiência e inovação focadas em resultados, acreditando que a experiência do setor privado pode impulsionar a otimização de processos e o desenvolvimento de soluções mais ágeis e eficazes, sem descurar a necessidade de um profundo conhecimento do funcionamento da Administração Pública. Também, 25% dos gestores corroboram esta visão, defendendo que a introdução de metodologias do setor privado pode trazer maior rigor e eficiência à gestão pública.
A nível internacional, a economia da Alemanha, um dos principais motores da economia europeia, enfrenta um período de desaceleração prolongada. O Bundesbank prevê que esta tendência se estenda até 2026, gerando incerteza para muitas empresas, especialmente aquelas ligadas ao comércio e às cadeias de abastecimento da União Europeia. Perante este cenário, 40% dos empresários portugueses não implementaram medidas concretas para mitigar potenciais impactos, considerando que a economia alemã não afeta, significativamente, o seu negócio. Outros 40% também não adotaram estratégias específicas, mas mantêm-se atentos à evolução da conjuntura alemã, reconhecendo a sua relevância no panorama europeu. Por outro lado, 20% dos inquiridos já tomaram medidas preventivas: 10% estão a diversificar mercados para reduzir a dependência da Alemanha, enquanto outros 10% optaram por adaptar os seus produtos e serviços ao novo contexto económico, procurando minimizar riscos e garantir maior resiliência empresarial.
No que diz respeito às relações comerciais internacionais, outro fator de preocupação para as empresas portuguesas são as possíveis tarifas que os Estados Unidos possam vir a impor sobre produtos da União Europeia. Embora tais tarifas ainda não tenham sido implementadas, 38% dos inquiridos consideram que o impacto potencial seria moderado, pois acreditam que existem alternativas para contornar os desafios, como a diversificação de mercados ou ajustes nas cadeias de abastecimento. Já 31% dos empresários avaliam que o impacto seria elevado, uma vez que algumas empresas seriam bastante prejudicadas, ainda que o efeito global pudesse ser moderado. Para 15% dos inquiridos, o impacto seria muito elevado, podendo afetar, substancialmente, setores estratégicos da economia. 16% dos gestores acreditam que o impacto seria reduzido ou nulo, com pouca influência sobre a maioria das indústrias.
Estes dados reforçam a necessidade de uma preparação estratégica antecipada, garantindo que as empresas estejam prontas para enfrentar potenciais disrupções nas relações comerciais transatlânticas.
O crescimento empresarial e o desenvolvimento de uma cultura de excelência como principais eixos estratégicos
O crescimento do negócio surge como a principal prioridade estratégica para 32% dos gestores, enquanto 27% indicam a cultura de excelência como foco preferencial.
Independentemente da prioridade estratégica escolhida, a maioria dos decisores considera que a eficiência operacional (74%) e o investimento em tecnologia (45%) são fundamentais para garantir a sustentabilidade e a competitividade futura das suas organizações. Neste contexto, estas iniciativas são associadas ao aumento da competitividade e à expansão do negócio, sendo vistas como motores essenciais para acelerar resultados num horizonte temporal mais imediato.
Por outro lado, os gestores que privilegiam a cultura de excelência encaram essas mesmas áreas — eficiência e tecnologia — como componentes de uma estratégia de longo prazo, orientada para a melhoria contínua e o desenvolvimento organizacional. Para estes líderes, o investimento em tecnologia e na otimização de processos representa um passo essencial para consolidar uma base sólida de excelência operacional, capaz de sustentar o crescimento a longo prazo.
Eficiência Operacional, Tecnologia e Aumento da Produtividade
As empresas estão a intensificar o investimento em soluções de Inteligência Artificial (IA), com o objetivo de otimizar processos e acelerar a tomada de decisão. A aposta incide, essencialmente, em tecnologias capazes de potenciar a eficiência operacional e suportar decisões estratégicas mais informadas e ágeis.
O crescimento exponencial da IA nos últimos anos, impulsionado em grande parte pela proliferação dos modelos generativos, tem contribuído para a sua democratização. Ferramentas que antes estavam circunscritas a contextos altamente técnicos tornaram-se, agora, acessíveis a um público mais vasto, aproximando o utilizador final do seu potencial. A aplicação da IA já não se limita a problemas determinísticos e bem definidos; hoje, assume um papel crescente como suporte à tomada de decisão complexa e ao desenvolvimento de políticas (policy-making).
A evolução da capacidade computacional, aliada ao desenvolvimento de modelos cada vez mais avançados, permite escalar soluções de análise preditiva, automação e otimização de processos em múltiplos setores de atividade. Esta transformação reflete os progressos tecnológicos recentes e um aumento significativo da confiança na eficácia e fiabilidade da IA, enquanto aliada estratégica para os negócios.
Importa, no entanto, sublinhar que, apesar do destaque atual em torno da IA generativa, as aplicações com maior valorização prática – como a automação de processos (64%) e a análise preditiva (56%) – não dependem exclusivamente desta vertente. A verdadeira revolução está na capacidade de integrar, de forma estratégica, diferentes abordagens de IA, extraindo valor dos dados e promovendo inovação sustentável.
Essa mesma lógica de integração estratégica aplica-se a outra dimensão fundamental da transformação empresarial: a sustentabilidade. Também ela exige uma abordagem transversal e alinhada com os objetivos de longo prazo das organizações. A sustentabilidade empresarial está, atualmente, a atravessar uma fase de transição marcada por novas exigências regulatórias, impulsionadas, entre outros fatores, pelo Pacote Omnibus da União Europeia. Apesar da incerteza que ainda rodeia este novo enquadramento legal, é essencial que as empresas mantenham o seu compromisso com as práticas ESG (Environmental, Social and Governance). Mais do que uma obrigação legal, a sustentabilidade deve ser encarada como um pilar estratégico para gerar impacto positivo no planeta, na sociedade e na criação de valor a longo prazo.
Os dados recolhidos sobre a perceção do retorno das iniciativas de sustentabilidade revelam três principais motivações por parte das empresas. Em primeiro lugar, 63% dos inquiridos reconhecem que estas ações incentivam um uso mais eficiente dos recursos, traduzindo-se em ganhos de rentabilidade. Em segundo lugar, 36% dos participantes apontam a promoção da inovação como uma consequência direta da aposta em sustentabilidade, sublinhando o seu papel na criação de novos produtos, serviços e modelos de negócio. Por fim, 35% destacam a importância da medição de indicadores que, de outra forma, não seriam avaliados, promovendo uma gestão mais orientada por dados e suportada em decisões informadas.
Para maximizar o impacto das práticas ESG, é fundamental que as organizações integrem a sustentabilidade no centro da sua estratégia empresarial. Isto implica adotar uma visão de longo prazo, com ações concretas que gerem impacto positivo no ambiente, na sociedade e no desempenho económico da empresa. Quando bem implementadas, as práticas ESG têm o potencial de reduzir custos operacionais, impulsionar a inovação, reforçar a competitividade, atrair talento e mitigar riscos. Mais do que uma tendência, tornam-se num verdadeiro diferencial estratégico, num mercado cada vez mais exigente e orientado para o valor sustentável.
Por fim, no âmbito de uma gestão mais eficiente dos recursos humanos, cresce a necessidade, assinalada por 38% dos empresários, de melhorar as condições laborais e os incentivos para atrair e reter talento, tanto nacional como internacional. Esta medida visa colmatar a escassez de mão de obra em Portugal, uma vez que 47% dos inquiridos afirmam contratar, regularmente, imigrantes para suprir essa necessidade.
Conclusões finais do estudo
Num contexto de transformações económicas e incerteza global, as empresas portuguesas demonstram uma resiliência notável, ajustando-se aos desafios com pragmatismo e uma visão estratégica sólida. Embora as preocupações com fatores externos, como a desaceleração económica e as tensões comerciais internacionais, estejam presentes, as organizações adotam uma abordagem cautelosa, centrada na monitorização constante dos mercados e na adaptação gradual às novas dinâmicas. O futuro das empresas portuguesas está a ser moldado pelo foco no crescimento sustentável, na otimização de processos e na integração de tecnologia como impulsionadora da inovação. Mais do que simplesmente responder aos desafios, o verdadeiro diferencial estará na capacidade de antecipar mudanças, reinventar-se constantemente e garantir a competitividade num mercado cada vez mais volátil e exigente.
Consulte os resultados da mais recente edição do Barómetro Económico KAIZEN™ aqui.